Lara Cristina Reis e Louie Fagundes

Em 20 de novembro de 1665 nascia Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro, símbolo de resistência que foi morto em 1969. Esse dia ganhou visibilidade em 1971, quando o grupo pioneiro realizou um ato evocativo à resistência negra na noite do dia 20 de novembro, no clube Marcílio Dias, em Porto Alegre. Com o passar do tempo, este dia se estendeu para um mês em prol da resistência da comunidade preta brasileira. Apesar das lutas serem diárias, este período marca grande simbologia para lembrar os que vieram antes e as lutas do povo afrodescendente, além de comemorar as vivências e belezas de uma cultura constantemente apagada pelo racismo estrutural.


Os movimentos em todo o país fazem diversas ações voltadas para a comunidade durante todo este período. Pensando nisso e em ressaltar as belezas da pele e dos costumes, o Movimento Negro de São João del-Rei, construiu, no ultimo sábado, 18, uma ação na comunidade do São Dimas com o tema “Negras Vivências”. O mês de novembro vem com uma bagagem enorme de lutas e dores, porém, apesar de ser importante relembrá-los, a comunidade preta no geral não deve ser diminuída a isso. A cultura e a ancestralidade também são de vital importância para desconstruir estigmas impostos por uma estrutura preconceituosa. Refletindo sobre isso, a ação contou com diversas atrações que exaltam a cultura, cor, cabelo e ancestralidade.

Diversas pessoas se reuniram para celebrar a negritude – Foto: Lara Cristina Reis

Como apontado pelo comunicador social e midiativista, Delcimar Ribeiro, 33, o evento, que se estendeu das 14 às 21h, só foi possível graças aos parceiros do movimento e ao quilombismo, que a organização de São João del-Rei tanto procura aflorar na comunidade negra. Assim, buscando promover essa noção de pertencimento, o encontro se mostrou uma experiência rica e acolhedora.

Com programação diversificada, diversas atividades culturais ocuparam o Centro Cultural Quilombo Urbano, onde ocorreu a ação. Além de uma roda de conversa sobre negritude e ancestralidade, dirigida pelo Movimento Negro; batalhas de MC promovidas pela Batalha da Estação ocuparam o espaço. A beleza negra foi valorizada pelas mãos dos trancistas Lucas e Eduarda Matoso e uma oficina de grafite ministrada pelo desenvolvedor do projeto Afro Tinta, Wellington, mais conhecido como Shiva, divertiu as crianças. Também houve performances de dança com os artistas YoYo, Stayce Carter e Ankh-Heru; exposição das obras da multiartista Marie; uma performance do grupo de reggae Olodum das Gerais e exposições artísticas pelo artista plástico Bruno Souza.

Para Delcimar, é de extrema importância aproveitar este mês de conscientização para externalizar as demandas da comunidade negra. Contudo, o comunicador também reforça que as pautas raciais não podem ser infladas apenas nesta data, “Nós não somos pretos apenas em novembro”, comenta ele.

MOVIMENTO NEGRO 

O Movimento Negro de São João del-Rei é um espaço de aquilombamento, no qual pessoas pretas se somam para desenvolver pautas sobre a identidade preta, como o letratamento racial. Segundo o midiativista, o movimento procura expandir ao máximo o alcance de suas ações, atuando na região, em universidades, cidades vizinhas e realizando palestras em escolas. Além disso, recentemente, com o fim da pandemia, eles voltaram a construir e contribuir para projetos em comunidades remanescentes quilombolas. “A proposta é esse aquilombamento e que este quilombo seja para todos os lugares. (…) É movimentar essa pertença em todas as comunidades de São João del-Rei”, afirma.

Integrantes do Movimento Negro dirigiram roda de conversa sobre ancestralidade – Foto: Lara Cristina Reis

O comunicador acredita que o objetivo do movimento vem sendo alcançado e a prova disso são as inúmeras conquistas, como a sede, a escola para letramento racial, o próprio evento Negras Vivências e o apoio da comunidade São Dimas e de outros defensores da causa. Nas palavras de Delcimar, o encontro de sábado “É uma semente plantada de encontros anteriores”. Afinal, até o presente momento houve uma longa jornada.

Antes, os integrantes da organização se sentavam no pátio do campus Dom Bosco para discutir sobre os desafios e a cultura da comunidade preta. Entretanto, hoje o cenário mudou e agora possuem a sede no Quilombo Urbano, para discutir ideias e desenvolvê-las em diversos espaços. “Nós não começamos ontem, mas temos alguns desafios pela frente e estamos dispostos a encará-los para poder promover esses eventos de extrema importância”, diz o midiativista.

Cobertura fotográfica – fotos por Lara Cristina Reis