Por Ana Luiza Fagundes

Imagem ilustrativa Abolição dos Escravizados.
Foto: Reprodução Coletivo Indra

Muito se fala do dia 13 de Maio de 1888, o famoso dia em que a Princesa Isabel, em toda a sua bondade e compaixão, deu liberdade a milhões de africanos escravizados. Aquela caneta não fez nada, aquela monarca muito menos. Até nisso, houve o apagamento da resistência preta a uma das maiores atrocidades cometidas pelo ser humano contra o outro! Creio que deve estar pensando: “Está nos livros de história, nos foi passado assim, você não estava lá…”. Eu podia não estar, mas meus ancestrais estavam, e fizeram muito mais do que segurar uma caneta.

Iniciado na tarde do dia 13 de maio de 1833, ocorreu a “Revolta de Carrancas”, o mais sangrento ato contra a escravidão liderado por escravizados, e ressalto, não foi o único, porém vamos focar nesse. O movimento que aconteceu nas fazendas dos Junqueira, resultou na morte de nove membros da família senhorial: duas pessoas de “cor”, um agregado e cinco escravos. A regência foi implacável na condenação, 16 escravos foram enforcados aqui, na vila de São João del-Rei, entre dezembro de 1833 e abril de 1834. Antônio Resende, o único que conseguiu se livrar da condenação à pena máxima, teve que enforcar os companheiros, e terminou os seus dias preso na cadeia na vila de São João del-Rei. Ele exerceu a função de carrasco até o fim dos seus dias.

Dia após dia, há um apagamento até da luta dos escravizados contra a escravidão, e, ao andar e comentar pelas ruas de São João del-Rei sobre o assunto, pude observar que metade das pessoas nem tinham conhecimento sobre iss,o e a outra nem se importava. A cidade na província de Vila Rica tem em suas estradas sangue escravo, e não sabem, ou não querem saber da sua história, nem se interessam pela nossa. Este dia tem sido alvo comercial, para marcas e pessoas se venderem de politizadas, e nem vou falar do mês da Consciência Negra.

A luta para manter a cultura preta viva e nossos enfrentamentos data de anos antes de 1833, e dura até os dias atuais. É de vital importância que, não somente pessoas pretas, mas a sociedade brasileira tenha consciência disso. Nem irei comentar das lutas pós assinatura para se manterem em um país desconhecido, sem assistência alguma. Uma caneta não aboliu a escravidão, nem a dor que até hoje pretos e pretas sentem diariamente nas costas, enfrentando e resistindo a um racismo estrutural, que visa mais sangue nas ruas.

Princesa Isabel, um recado para vossa senhoria: Sua caneta tem o sangue de um povo inteiro, então, assim sabe? Sua piada virou mousse.