A edição deste ano foi capaz não só de consolidar o seu caráter cultural, como também de chamar atenção para questões referentes à identificação e ao envolvimento.

No último final de semana, aconteceu a segunda edição da Bienal de Arte Urbana Mineira (Baum), em Santa Cruz de Minas, menor município do Brasil. O trecho da Estrada Real que dá acesso a Tiradentes recebeu dezenas de pessoas, que passaram para prestigiar as exposições, os workshops, as palestras e os shows que aconteceram no local.

De acordo com o coordenador geral da Bienal, Francisco Assis, a ideia surgiu a partir da sua experiência no Festival Arte Core, no Rio de Janeiro. Na tentativa de descentralizar o fluxo cultural do eixo Rio-São Paulo, Francisco decidiu disseminar a ideia. Ele conta que, embora inicialmente tenha tido alguns olhares desconfiados, no final, tudo deu certo. As pessoas, além de incentivarem, também contribuíram para a realização do evento.

Cultura para todos e por todos

Um dos objetivos da Bienal é promover o sentimento de pertencimento e identificação local entre a população, afirmou Francisco. Para ele, os moradores de Santa Cruz de Minas não se sentem parte das intervenções que acontecem na região, como o Inverno Cultural ou a Mostra de Cinema de Tiradentes.

O artista regional Marcelo Fidélis, que teve algumas de suas obras expostas no evento, destacou a importância desse espaço no que diz respeito ao reconhecimento da população em relação aos artistas e à visibilidade de seus respectivos trabalhos. De acordo com Marcelo, o formato do evento, projetado ao ar livre, proporciona uma troca ainda maior com público, o que gera um estado de “tranquilidade” e “reciprocidade”.

Para o poeta Guilherme Paiffer Pelodan, a Bienal oferece acesso a um tipo de arte que, muitas vezes, fica marginalizada em uma cidade do interior. “Fomentar o movimento cultural na região é essencial para caminhar na contramão da burocracia que o sistema estabelece diante da cultura e da arte no Brasil”, completa.
Em razão das dificuldades decorrentes do cenário político-econômico atual, a organização do evento precisou adaptar as suas formas de captação de verba. A alternativa encontrada foi o financiamento coletivo. Além disso, a realização da Bienal contou com o apoio colaborativo de artistas de renome, como Nilo Zack.
Em entrevista, Nilo revelou que viu o evento como uma oportunidade para levar a arte a um público que normalmente não frequenta museus ou galerias. O grafite, mais do que outros movimentos contemporâneos, está acessível a todos e em qualquer lugar, interagindo direta e profundamente com o cenário urbano e, também, mantendo um diálogo constante com a cultura digital, afirmou o artista visual.

A Bienal deste ano foi capaz não só de consolidar o seu caráter cultural, como também de chamar a atenção para questões referentes ao sentimento de pertencimento da população local e ao envolvimento das pessoas, que se dispuseram a contribuir com a sua organização. A próxima edição do evento deve acontecer em 2018, e o local previsto para a realização ainda está sendo planejado.

Texto/VAN: Juliana Paravizo Mira
Fotos: Juliana Paravizo Mira e Ícaro Chaves
Colaboração: Ícaro Chaves

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