Basta!
Por Ana Cláudia Almeida

Há cerca de quinze anos, um decreto se tornou mais um marco histórico brasileiro. Um posicionamento antirracista, enfim consolidado, fez surgir um vislumbre de esperança. Oficializado como o Dia da Consciência Negra em 2011, 20 de novembro prometeu nunca mais ser o mesmo, porém muitas vezes se esquece.
Dia Nacional de Zumbi, agora feriado nacional, não merece ser aclamado em apenas 24 horas. Também não apenas em novembro, mas convenhamos ser um começo. Começo? Em 2025? Pois é, caro leitor, estamos sempre atrasados.
Brasil, último país das Américas a abolir a escravidão e um sistema construído com violência e condições de trabalho desumanas. Brasil, República Federativa e amnésia nacional. “137 anos de continuidade e radicalização do racismo estrutural”, para a historiadora Lilia Schwarcz. “Democracia racial, um mito de dominação”, para a pesquisadora Lélia Gonzalez.
Para uma sociedade onde o racismo é ainda um “sintoma da neurose da cultura brasileira”, a resistência ancestral de indivíduos escravizados são reduzidos a nada. A formação de quilombos, de revoltas, de lideranças engajadas desde Dandara, passando por Luís Gama, até Carolina Maria de Jesus…reduzidos a nada.
Basta! Não basta esquecer em 364 dias e, com discursos decorados, celebrar a data comemorativa. Basta! Não basta apenas eventos culturais, sem financiar mudanças estruturais. Basta! Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.
Contra um legado centenário de ocultação e desigualdade racial, armados de reflexões e ações. Mais políticas públicas assertivas e razoáveis, mais equidade. Mais re(conhecimento), mais liberdade.
Em tempos dos finados Abdias do Nascimento e Marielle Franco, de Conceição Evaristo e Djamilla Ribeiro, a dedicação antirracista precisa ser geral. A exaltação da memória e o aprendizado com a história surgem como caminhos de mais dignidade ao povo negro. Basta! Como o alagoano de Palmares disse: “É chegada a hora de tirar nossa nação das trevas da injustiça racial!”
