Baixa procura por vacinação contra a gripe causa preocupação em São João del-Rei
Menos de 40% do público da campanha foi vacinado, segundo Boletim Epidemiológico divulgado no fim de maio pela Secretaria Municipal da Saúde. A meta nacional é de 90%
Por Luis Philipe Amaral, Paulo Mambelli e repórteres da VAN*

Quedas na temperatura, tosses e medicamentos marcam o inverno no interior de Minas Gerais, quando aumenta a incidência de casos de gripe e de resfriados. A vacinação contra as influenzas A e B estão sendo feitas por todo território nacional, mas em São João del-Rei, nem 40% do público pretendido foi alcançado. A falta de acesso, a não divulgação, a longa distância da casa dos moradores até os postos de saúde públicos somam força do lado oposto à saúde da população, que se vê à deriva dos cuidados que deveriam chegar por parte do estado, mas aparentemente sem uma noção real da problemática abordada.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, a partir do dia 28 de abril, a vacinação contra a Influenza foi ampliada para toda a população mineira com seis meses de idade ou mais, conforme resolução publicada no Diário Oficial.
Segundo o Ministério da Saúde, a vacinação é uma das mais eficazes estratégias para preservar a saúde da população, prevenir doenças graves e piora nos quadros de doenças respiratórias decorrentes de resfriados e de gripes. Para isso, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Governo Federal, disponibiliza gratuitamente mais de 47 imunobiológicos, incluindo 30 vacinas, no SUS.
Em São João del-Rei, a baixa procura pela imunização nos postos de saúde, durante este inverno, tem preocupado médicos e agentes de saúde. O médico e professor de Medicina da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Rodrigo Chávez Penha, alerta sobre a necessidade da vacinação contra a gripe e sobre as consequências da não imunização. Penha, durante os anos de 2015 e 2016, atuou na cidade como secretário de saúde e acompanhou o processo burocrático e o funcionamento das políticas públicas de bem-estar dos são-joanenses. O especialista em saúde apresenta as medidas mais eficazes de prevenção a síndromes respiratórias e os desafios ligados à vacinação, como a adoção de medidas de higiene básicas, essenciais para evitar se contaminar e contaminar as outras pessoas. Isso envolve ter acesso à água e a sabão para lavar as mãos, cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar, utilizar máscaras cirúrgicas para aumentar a proteção coletiva, ter acesso a um médico ou médica para fazer um diagnóstico, hidratar-se frequentemente, vacinar-se e ter uma vida em comunidade. Sobre esse último ponto, Rodrigo Penha destaca: “ter uma vida comunitária também que a gente se cuide. Eu cuido de você, você cuida de mim.”
Questionado sobre a baixa procura pela vacinação contra a gripe, o professor ressalta: “A gente passou por um momento em que a campanha contra as vacinas ganhou muito fôlego. Infelizmente, até de representantes oficiais do governo e dos governos.”
A falta de informação e de campanhas de adesão, somada ao impacto das campanhas antivacina do governo anterior, acaba atuando contra a saúde pública e o bem-estar da população.
A agente comunitária de saúde Élida Pereira Neves, que atua há 13 anos na área, dos quais um ano e oito meses na Estratégia de Saúde da Família (ESF) do bairro Bonfim, relata que o trabalho de orientação e busca ativa é constante, mas nem sempre suficiente para convencer quem resiste à vacinação. “Tem muita gente que tem uma resistência à vacina. Que tem medo e acha perigoso. A gente escuta muito disso, né?”, conta Élida, destacando que a politização do tema e a circulação de notícias falsas aumentaram a desconfiança nos últimos anos.
Maria Gabrielli de Souza, médica atuante da ESF do bairro Pio XII, reitera: “Os efeitos das campanhas antivacina e das fake news, que tiveram auge na pandemia, deixaram sequelas profundas. Há desinteresse, falta de informação e medo da vacina”.
Esse tipo de receio aparece também entre moradores do entorno são-joanense, como a pessoa que entrevistamos, que preferiu não se identificar. A pessoa entrevistada admite não ser favorável à vacinação por medo de efeitos colaterais e agulhas, mesmo sem conhecer casos concretos de complicações graves. “A última vacina que tomei foi a da COVID, mas tive febre e precisei de atestado médico”, relata. Conforme afirma, cada pessoa deve decidir por si, ainda que reconheça que a maioria ao seu redor é favorável à imunização.
A pedagoga Marilza Fernandes da Silva reforça a importância de confiar na segurança das vacinas e destaca a necessidade do acesso a informações e a campanhas educativas “nas escolas, também nas comunidades e nas mídias”, afirma. Como pedagoga, ela demonstra como a educação tem um papel fundamental no processo e expressa todo o apoio e os benefícios que a imunização traz para a população. Segundo a entrevistada, “tem muita gente que ainda fica com medo ou tem dúvida porque não recebeu orientação suficiente”. Marilza, enfatiza a urgência da facilitação do acesso aos postos de saúde, com horários flexíveis e ações itinerantes. “Informação e acesso precisam andar juntos”, encerra.
Enquanto profissionais de saúde insistem na importância da vacinação como proteção coletiva e buscam estratégias para ampliar a cobertura, parte da população ainda hesita, seja por medo, desinformação ou influência de discursos contrários à ciência. O trabalho dos agentes, como destaca Élida, é primordial para esclarecer dúvidas e combater mitos, mas a decisão final ainda depende da confiança de cada cidadão. “Apesar de a gente fazer a busca ativa, a pessoa só vai se ela quiser. A gente não pode obrigar, entendeu?”, reafirma.
Diante dos desafios enfrentados, o professor Penha reforça que superar o discurso anti-ciência e estimular o acesso à informação de qualidade são passos fundamentais para retomar a confiança da população nas vacinas. Para o médico, é necessário “superar o discurso anti-ciência, antivacina, anti-conhecimento. Voltar a discutir isso, não da maneira violenta com que algumas pessoas falam assim: “se você não estudou, você é isso, você é aquilo, você não leu”. É estimular as pessoas a lerem.”
O médico destaca ainda que a vacinação vai além de um ato individual: é um compromisso coletivo, essencial para proteger os mais vulneráveis e garantir o bem-estar de toda a comunidade. “Ter uma vida comunitária também que a gente se cuide. Eu cuido de você, você cuida de mim”, resume Rodrigo Penha.
Diante de um cenário de incertezas e desafios, a aposta na informação, na ciência e na solidariedade segue sendo o caminho mais seguro para atravessar o inverno e proteger a saúde de todos. Comparecer aos locais de vacinação, munido do cartão de vacinas, documento de identificação com foto e cartão do SUS, é essencial para manter a proteção coletiva. Para mais informações, pode-se entrar em contato com a Secretaria de Saúde, através do 0800 678 2000 e falar no Setor de Epidemiologia, através dos ramais 2036/2037.
*Reportagem VAN: Dirceu Vieira, Isabella Emily, Lídia Oliveira