por: João Murad e João Gusmão

A APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de São João del-Rei é uma instituição que há décadas se dedica à inclusão e ao bem-estar das pessoas com deficiência. Nesta matéria, destacamos as histórias pessoais de indivíduos como Donato Da Silva Nogueira, ex-aluno e voluntário, para ilustrar a importância dessa organização, ao mesmo tempo em que abordamos os desafios financeiros que ela enfrenta.

Donato Da Silva Nogueira, Presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, com 59 anos de idade, é um exemplo vivo de superação e gratidão. Ele foi um dos primeiros alunos quando a APAE de São João del Rei foi fundada. Segundo ele, naquela época, pessoas com deficiência eram tratadas como animais, mas a APAE trouxe um novo olhar e ofereceu a Donato a oportunidade de receber apoio pedagógico e psicológico. Ele relembra que se uma pessoa com deficiência viesse de uma família com dinheiro, era colocada em um quarto separado com um cuidador contratado. A partir da criação dos cursos de pedagogia e psicologia no Colégio São João, atual Campus Dom Bosco, Donato começou a participar de trabalhos pedagógicos e psicológicos, sempre de forma voluntária e caritativa.

Apesar dos desafios que enfrentou, Donato sempre recebeu apoio da APAE. Mesmo quando adulto e precisando de ajuda sem recursos, a instituição esteve presente para acolhê-lo. Donato também assumiu a presidência do Clube de Ex-Alunos da APAE, que infelizmente acabou. Segundo ele, se não fosse pela APAE, ele não estaria vivo, e seus amigos também não. Donato é um exemplo de como a instituição transformou vidas e proporcionou oportunidades de crescimento e inclusão.

Adão Pinto Filho é o presidente da APAE de São João del-Rei desde abril de 2022 e atua como voluntário há 14 anos. Ele destaca a importância de uma comunicação clara entre os setores da instituição. Adão enfatiza a necessidade de despertar a consciência da sociedade para a causa das APAEs e a importância de buscar recursos constantemente. A instituição enfrenta dificuldades mensais para alcançar os recursos necessários para manter suas atividades.

Diego Oliveira é o administrador da APAE e menciona que desde sua fundação, a iniciativa tem sido sustentada por esforços próprios e pela solidariedade da comunidade. Dentre suas fontes de renda, destaca-se um bazar realizado com peças doadas, que arrecada em média R$ 5 mil por mês. Além disso, a instituição conta com um serviço de telemarketing que mobiliza potenciais apoiadores, contando atualmente com cerca de 1700 pessoas por mês contribuindo com inúmeras quantias. Outras formas de geração de recursos incluem o aluguel de espaços para negócios, como a Funerária Ávila, e a locação do salão para festas. No entanto, essas iniciativas não são suficientes para suprir todas as necessidades da APAE.

Dificuldades

Apesar dos esforços da direção, dos 80 funcionários dedicados e das conquistas obtidas ao longo dos anos, a APAE enfrenta dificuldades para se manter financeiramente estável. A falta de apoio da prefeitura local é uma questão recorrente, uma vez que não são oferecidos subsídios ou concessões fiscais que poderiam aliviar a carga financeira da instituição. Os convênios mediados com empresas privadas têm sido a principal forma de apoio da prefeitura, mas ainda não são suficientes para suprir todas as demandas.

Atualmente, a APAE atende quase 800 pessoas e conta com 80 funcionários nas áreas de educação, assistência social e saúde. Diego reconhece que, apesar do apoio do poder público, a APAE não pode depender apenas de parcerias e doações pontuais. Com apoio da fala de Donato, isso fica claro:

“A verba é carimbada, é lei, não deveria precisar ir lá pedir à prefeitura, “mendigar”. Talvez a sociedade civil ajude mais que a prefeitura, com as doações de bens. A prefeitura faz projetos sem convidar as pessoas que vão usar, fazem uma rampa sem convidar um cadeirante, faz de qualquer jeito.”

Diego ainda destaca a importância do Estado assumir um papel mais ativo na garantia dos direitos das pessoas com deficiência e no financiamento adequado das instituições que as apoiam, como a APAE.

Outra voz importante na matéria é a do professor José Guilherme e seus alunos. O professor tem trabalhado na APAE de São João del-Rei há seis anos, inicialmente como oficineiro de desenho e posteriormente expandindo para áreas como pintura, teatro, dança e música, de acordo com as habilidades dos alunos. Ele destaca como a arte pode transcender barreiras linguísticas e de deficiência, tornando-se uma poderosa forma de expressão e comunicação. A APAE oferece um ambiente seguro e estimulante para os alunos explorarem suas habilidades artísticas e desenvolverem a criatividade. Os alunos enfatizam como as atividades na APAE os ajudaram a ganhar confiança, desenvolver habilidades sociais e se sentir valorizados. Para eles, a arte é uma maneira significativa de expressar sentimentos e emoções, especialmente para aqueles que têm dificuldades de comunicação verbal.

A APAE de São João del-Rei continua desempenhando um papel vital na vida das pessoas com deficiência, oferecendo suporte, educação e oportunidades de desenvolvimento. Mas fica claro que o poder público não valoriza o trabalho da APAE e seus alunos, deixando ela depender constantemente da ajuda da sociedade local, mantendo em dúvida a cada mês de onde virá os recursos necessários para o seu funcionamento.

Continuaremos o acompanhamento com a APAE nas próximas semanas, publicando conteúdo em vídeo na próxima quarta feira, 17/05/23. 

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