A Lenda do Guaraná: alunos da escola Tomé Portes del-Rei aprendem sobre a cultura indígena
Por Ana Julia Barbosa
Na Escola Tomé Portes del-Rei, aulas de filosofia são oferecidas aos alunos do 5º ano, sendo ministradas poralunos da UFSJ, integrantes do Laboratório de Educação em Filosofia (LAFIL). As aulas tem como objetivo ajudá-las a entender questões sobre raça, etnia e diversidade cultural por meio de explicações lúdicas e atividades recreativas
Nas últimas aulas realizadas no mês julho, as crianças aprenderam a “Lenda do Guaraná”. Em um primeiro momento, os educadores levaram uma caixa e pediram para as crianças adivinhar o que estava ali dentro. Através de dicas, as crianças descobriram que seria um guaraná, no caso, uma versão pequena da bebida. Após a dinâmica, os universitários relembraram a diferença entre mitos e lendas que já havia sido explicado em outras aulas e, depois de relembrar, eles contaram a “Lenda do Guaraná”.
Na história, um casal indigena pediu a Tupã para que tivessem um filho. O Deus, então, lhes deu um lindo menino que se chamava Cauê, que era muito querido por todos e também por Tupã. Cauê recebeu o dom de conversar com os animais e plantas. Isso fez com que Jurupari, o Deus da escuridão, ficasse com raiva e se transformasse em uma criatura muito perigosa, que atacou o menino enquanto ele colhia frutas na floresta. O menino parou de ouvir e falar, deixando todos os animais e plantas doentes. Tupã vendo a situação, deu a ele o dom de se comunicar por sinais. Cauê ensinou a linguagem para toda a tribo. Assim, ele teve seus filhos e viveu por muitos anos. Quando faleceu, seus filhos pediram ao Deus Tupã uma homenagem ao índio, e ele criou o guaraná, a fruta que lembrava a cor da pele e os olhos de Cauê.
A proposta da atividade segue a premissa de apresentar às crianças a cultura indigena, segundo a educadora e bolsista Laura da Silva Souza. ”É fundamental trazer a temática dos povos indígenas para as crianças, porque isso contribui para a formação de uma consciência crítica e respeitosa desde cedo. Conhecer a história, a cultura e as lutas dos povos indígenas ajuda a promover a diversidade, a empatia e a valorização de diferentes formas de vida e perspectivas”. Ela ressalta a importância de lidar com essa temática na educação básica das crianças, pois assim, é possível combater preconceitos e construir uma sociedade mais justa e inclusiva.
Essa atividade sobre o alimento guaraná foi pensada pois os alunos mostraram interesse em conhecer mais sobre a alimentação dos povos indígena, e com a demonstração dessa curiosidade, os integrantes do LAFIL prepararam a aula. Nela, eles explicam como os povos usavam a fruta em sua rotina, utilizando-a como bebida energética e medicamento.
A atividade também busca incentivar as crianças a especular qual é a origem da palavra e da onde ela surgiu. Em várias respostas, as crianças imaginaram como teria sido: “Alguém foi tentar falar guarani e se confundiu e falou guaraná”, ou “A palavra olho deve ser parecida”, e assim eles participaram dando suas opiniões sobre a temática. E para chamar mais a atenção das crianças e ser uma atividade diferente, os educadores ofereceram às crianças guaraná para que eles tomassem após a aula.
Os alunos da Escola Tomé Portes del-Rei são crianças curiosas, espertas, carinhosas e inteligentes. Elas participam de todas atividades propostas e sempre interagem com os graduandos de filosofia. Laura nos conta que nessa atividade, um dos alunos, após escutar que Cauê, o personagem da lenda, tinha a cor da pele parecida a cor do guaraná, perguntou se o indigena tem a pele vermelha. Essa é apenas uma das associações e reflexões que os alunos acrescentam às aulas e, em todas as atividades, os alunos trazem mais questionamentos e respostas aos assuntos apresentados a eles.
Não apenas os alunos do 5º ano que aprendem, os educadores em formação também estão em sala de aula aprendendo na rotina da escola a prática da licenciatura. A integrante do LAFIL, Laura da Silva Souza, relata que “Estar na sala de aula infantil com um projeto de extensão sobre a temática indígena é extremamente transformador e significativo. Isso só enriquece a formação profissional ao me proporcionar uma compreensão mais profunda das diversas culturas e realidades sociais e da sala de aula”. O projeto tem como grande objetivo levar a filosofia às crianças, mas também, mostrar aos graduandos a realidade em sala de aula. E esse contato é uma experiência enriquecedora para todos.