A infância interminável
Por Gabrielli Caldeira e Rafael Salviano

Quando somos crianças os dias são enormes, cabe tudo dentro deles: correr, brincar, cantar, jogar bola e pular amarelinha. O tempo parece congelar, como um pause em um filme que não se pode perder um minuto sequer.
Até que o filme termina e não se consegue mais pausá-lo, e o crescer chega para todos. O tempo começa a correr, as horas encolhem e o quintal vira lembrança felizes. As perguntas incessantes de curiosidade se tornam frases frias e repetidas de um adulto cansado.
A pressa toma espaço da curiosidade, o dever substitui a descoberta, e os sonhos ganham prazos e planilhas. A infância, antes tão cheia de cores, passa a morar em fotografias e cheiros que a memória insiste em guardar — o perfume da terra molhada, o som dos passos descalços, o riso que ecoava sem motivo, o bolo que a avó assava no forno e a massinha que brincava na mesa.
São nesses momentos que a infância resolve fazer visita, desde o som da gargalhada de uma criança na rua até a lembrança daquele brinquedo especial guardado numa caixa de recordações. E, parece que por um instante, o tempo volta a se alongar e a fantasia volta a se tornar realidade. É como se ainda houvesse espaço para brincar, mesmo que o tempo tenha passado e a idade tenha chegado.
A partir de tudo isso, é que percebemos que a infância não acaba: ela vive no interior de cada um de nós, esperando um chamado ou um despertar. Basta um olhar curioso, um gesto inocente, um pouco de imaginação e a beleza das cores infantis. Crescer não é deixar de ser criança. É fazer de sua criança interior um verdadeiro antídoto de felicidade para os dias tristes. É reconhecer que a beleza da infância sempre deixa a vida mais colorida.
No Dia das Crianças, o melhor presente é se lembrar disso. Largar o relógio por um tempo, transformar planilhas em brincadeiras e fazer com que a única obrigação importante seja a de ser feliz. O mundo continua o mesmo e sempre é tempo de correr atrás do vento outra vez. Nas palavras do jornalista e escritor colombiano Gabriel García Márquez, “as pessoas somente envelhecem porque param de seguir seus sonhos”.