Por Isabela Barbosa, Igor Chaves e Raila Biaggio

Maria do Carmo Ferreira da Costa (Madu) – Foto: Igor Chaves

Maria do Carmo Ferreira da Costa, conhecida como Madu Costa, é escritora, pedagoga, arte-educadora, cordelista e narradora de histórias. Autora de “Meninas Negras”, Madu participou da quarta edição da FLITI (Feira Literária de Tiradentes) mediando a mesa “Construção e resgate da identidade étnico-racial na literatura infantil”, lançando sua nova  obra “Zuza”, e participando do bate papo “Mamma África” ao lado de Lavínia Rocha.

A arte e a literatura sempre fizeram parte da vida de Madu que, ao adentrar a sala de aula como professora, descobriu seu talento em ensinar para crianças de forma dinâmica, transformando suas aulas em cordel. Em entrevista para a VAN, Madu ressalta que, em seu trabalho como escritora, encontra beleza em levar “a palavra e o silêncio que existe entre as palavras” para despertar diferentes possibilidades de entendimento, enfatizando seu “desejo de ser livre através da literatura”. 

Madu durante a 4ª Feira Literária de Tiradentes – Foto: Raila Biaggio

Com foco no público infantil, a autora diz escrever para as diversas infâncias e, ao mesmo tempo, para sua criança interior. Ao abordar a temática da representatividade étnico-racial em seus livros, trazendo protagonistas negros, o maior desafio enfrentado por Madu é resistir em um país racista, onde é necessário convencer as pessoas brancas de que sua literatura também é pra elas. Sobre esse assunto, a autora frisou que, a cada nova obra, é necessário convencer até mesmo os adultos negros de que a literatura afro-referenciada merece espaço. Para Madu, “Muitos adultos negros nem sabem que são negros, porque não é fácil se declarar negro em um país racista”. 

Para ilustrar o desafio de enfrentar o preconceito na literatura a todo o tempo, Madu Costa mencionou a própria FLITI: “Quando você olha para as pessoas pretas que estão trabalhando, elas estão vestidas de escravas”. Nas palavras de Madu, “Se você olhar quem está circulando na feira como visitantes, você pode contar nos dedos as pessoas pretas que estão aqui”. Madu continuou, acentuando a contradição do evento, que sediou rodas de conversa sobre literatura afro-referenciada: “Isso afetou tanto a minha dignidade que está muito difícil para eu continuar aqui até amanhã, toda hora esbarrando com as minhas colegas de etnia vestidas de escravas, desfilando em uma feira de literatura. […] O racismo brasileiro desfilando na Feira Literária de Tiradentes, com a permissão da curadoria”.

Ainda na roda de conversa “Mamma África”, Madu e Lavínia Rocha discutiram o espaço da literatura negra no cenário brasileiro e, principalmente, sobre como protagonistas afrodescendentes ainda não são enxergados como simples personagens, com suas próprias vontades e histórias. Em 2023, a escrita afro-referenciada ainda luta para se tornar – simplesmente – literatura, sendo tratada em sala de aula, bibliotecas e feiras por igual. Para as autoras, o Brasil ainda não está pronto para lidar com respeito e, especificamente para Madu, pessoas negras e o racismo ainda são invisíveis para aqueles que não se indignam.

Roda de conversa “Mamma África”, com Madu Costa e Lavínia Rocha, durante apagão – Foto: Igor Chaves