Questões clínicas e inclusivas são pautadas em entrevistas com o otorrinolaringologista Dr. Luiz Cláudio Teixeira e a professora de Libras Telma Rosa

Por Felipe Rocha e Rafael Alonso

Foto: Reprodução/Biblioteca Virtual em Saúde

O dia 10 de novembro é dedicado à prevenção e combate à surdez. Essa celebração nacional chama a atenção para um problema silencioso que afeta milhões de brasileiros. Segundo o IBGE, mais de 10 milhões de pessoas no país têm algum grau de perda auditiva e grande parte desses casos poderia ser evitada com hábitos simples de prevenção.

O otorrinolaringologista Dr. Luiz Cláudio Teixeira explica que as causas da surdez se dividem entre as congênitas, presentes desde o nascimento, e as adquiridas, que surgem ao longo da vida. Entre as mais comuns, estão a exposição excessiva a ruídos, infecções não tratadas e o envelhecimento natural do ouvido.

O médico alerta que os fones de ouvido são um dos maiores vilões da saúde auditiva na atualidade, especialmente entre os jovens. Mas calma: isso não significa que você precisa parar de usar fones, mas deve tomar cuidado com a intensidade deles e o tempo que você os utiliza.

O especialista aproveita para dar uma dica para que as pessoas utilizem os fones de uma forma benéfica à saúde: “Uma regra prática é a do 60/60: usar fones a no máximo 60% do volume e por 60 minutos seguidos, fazendo pausas para descansar os ouvidos”. Outra recomendação clínica é utilizar fones com cancelamento de ruído, que bloqueiam sons externos e criam uma experiência de audição mais limpa e imersiva.

Além disso, os sinais de alerta da perda auditiva podem surgir de forma discreta, como aumentar demais o volume da TV, pedir para as pessoas repetirem o que dizem ou ter zumbidos constantes. “Muita gente demora a procurar ajuda porque acha que é algo passageiro. Quanto antes for feito o diagnóstico, maiores as chances de evitar perdas permanentes”, explica o especialista.

O diagnóstico é feito por exames simples, como a audiometria, e o tratamento varia conforme o caso. Há desde aparelhos auditivos discretos até o implante coclear, conhecido como “ouvido biônico”, que devolve a capacidade de ouvir a pessoas com perdas profundas. “A tecnologia está cada vez mais avançada, mas nada substitui a prevenção”, completa o médico.

Mas a surdez vai além da questão médica, sendo também uma questão de inclusão. Telma Rosa de Andrade, surda profunda e professora de Libras (Língua Brasileira de Sinais) da UFSJ, lembra como foi o seu diagnóstico ainda na infância: “Um médico chamado Ademir descobriu minha surdez. Desde então, comecei a estudar em uma escola especializada, o Inácio Passos, onde minha mãe recebia orientações sobre como me ajudar”.

Naquela época, a Libras ainda não era reconhecida oficialmente. “Eu estudava de manhã na escola regular e à tarde na especial. Me esforçava muito na leitura labial, porque não existia Libras”, explica.

Hoje, mesmo com os avanços, ela diz que ainda enfrenta barreiras. “Falta acessibilidade em muitos lugares: bancos, hospitais, consultas médicas, repartições públicas. A gente ainda luta para ter o mesmo direito de comunicação que os outros têm”, desabafa.

Para Telma, a Língua Brasileira de Sinais representa liberdade e pertencimento. “A Libras é uma língua como qualquer outra. Com ela, podemos estudar, trabalhar, participar da sociedade e entender o mundo. É a base da inclusão”, afirma.

O Dia da Prevenção e Combate à Surdez reforça que cuidar da audição é também cuidar da comunicação, da convivência e da inclusão. Mais do que ouvir sons, trata-se de garantir que todas as vozes, faladas ou sinalizadas, sejam compreendidas e respeitadas.