Por Catarina Mendes, Cléber Lucas, Dirceu Vieira, Lídia Oliveira, Paulo Mambelli

Entrada da biblioteca no centro histórico de São João del-Rei. Foto: Dirceu Vieira

A Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano d’Almeida, considerada a primeira biblioteca pública a ser inaugurada na “Província de Minas Gerais”, tem como fundador Baptista Caetano d’Almeida. No site oficial da instituição, além de sua história, é possível conhecer mais o seu patrono.

Conforme as informações oficiais, Baptista Caetano d’Almeida “foi o primeiro dos onze filhos do casal Manoel Furquim de Almeida e Ana Bernardina de Melo, sendo neto, pelo lado paterno, dos paulistas Caetano Furquim de Campos e Isabel Sobrinha de Almeida e, pelo lado materno, de Batista Caetano de Melo e Maria Escolástica do Sacramento. Nasceu no dia 03 de maio de 1797, em Camanducaia (extremo Sul de Minas), onde passou a infância. Por volta dos treze ou quatorze anos de idade foi para São João d’El-Rei a fim de complementar seus estudos, indo morar com o seu tio paterno, o comerciante Pedro de Alcântara de Almeida, com quem aprendeu a trabalhar no comércio.”

Em 24 de julho de 1824, encaminhou uma petição à Corte, solicitando autorização para criar uma Livraria Pública. A livraria foi iniciada com uma coleção de livros de propriedade do próprio Baptista Caetano, sendo esse acervo original constituído, dentre outros títulos, pelas obras completas de Condillac, Mably, Raynal, Diderot, Buffon, Voltaire e pela Enciclopédia Methódica.

O espaço acolhe diferentes leitores e pessoas da comunidade, preservando seu papel sociocultural. Foto: Dirceu Vieira

No ano de 1824, então, foram feitas as primeiras tentativas de se inaugurar a Biblioteca. O Estado, por sua vez, recusou-se a prover qualquer tipo de recurso para sua manutenção ou ampliação. Dessa forma, somente em 1827, é que a então Livraria Pública da Vila de São João-del Rei foi inaugurada em uma das salas da Santa Casa da Misericórdia. 

Baptista Caetano manteve a Biblioteca até 1836 com recursos próprios, vindo a falecer em 1838. A partir dessa data, a instituição ficou sob os cuidados da municipalidade. A Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano d’Almeida fica localizada, atualmente, em prédio próprio, na Praça Frei Orlando, no número 90, no centro de São João del-Rei. 

A instituição conta com um vasto acervo de livros que podem ser pegos de empréstimo gratuitamente, mediante a confecção e renovação de uma carteirinha no valor anual de dez reais em espécie. Para a confecção da carteirinha, é necessário apresentação de um documento oficial com foto, CPF, comprovante de residência e uma foto 3×4 impressa recente. Caso o usuário seja menor de 16 anos, o mesmo processo pode ser realizado com o acompanhamento de um responsável.

O acervo extenso e diversificado é organizado em diferentes espaços da biblioteca. Foto: Dirceu Vieira

A Biblioteca Municipal funciona de segunda a sexta-feira (das 7 às 17 horas). Além de empréstimos de livros, projetos de contação de histórias e digitalização de jornais, lançamento de livros, saraus, oficinas de escrita e cursos, a biblioteca possui um espaço com computadores conectados à internet para a realização de pesquisas e uma área lúdica para as crianças frequentadoras. Nos espaços internos e externos da instituição são promovidos, portanto, vários eventos durante todo o ano, como, por exemplo, as sessões de cinema do Cineclube Cinema Chinês, coordenado pelo NES (Núcleo de Estudos Sinológicos) da UFSJ. Todos esses eventos são abertos ao público e sem custos aos frequentadores.

A história da Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano d’Almeida foi e continua sendo escrita por muitas mãos. Além de frequentadores das mais variadas idades, atualmente, o corpo técnico da instituição é composto por oito mulheres: Cláudia, Dorinha, Glória, Jana, Malu, Marisa, Miriam e Rosy. A bibliotecária Rosy Mara Oliveira e as auxiliares de biblioteca Maria Auxiliadora Nascimento Pereira, a Dorinha, e Maria Lúcia Bernardino Gonçalves Pinto Rodrigues, a Malu, conversaram com a nossa reportagem e contaram como, juntas, essas oito mulheres vêm ajudando a construir e a preservar as páginas desse acervo cultural de histórias e vivências são-joanenses. 

Rosy Mara Oliveira, em entrevista para a reportagem, conta sua experiência como primeira bibliotecária efetiva na instituição, seus desafios e perspectivas acerca do trabalho cultural executado na cidade, tanto para a manutenção da tradição são-joanense quanto no acolhimento das diferentes manifestações literárias e culturais que são realizadas no espaço da biblioteca.

Rosy no espaço infanto-juvenil, onde são realizadas várias atividades durante todo o ano. Foto: Dirceu Vieira

A bibliotecária conta como foi sua entrada nesse setor: “logo depois que saiu o edital da UFSJ, saiu da Biblioteca Pública de São João del-Rei, que não tinha, nunca teve bibliotecário, apesar dela ter seus 198 anos. Então, eu vim, passei no concurso daqui”. Rosy ressalta que “as bibliotecas que são mais valorizadas são as bibliotecas universitárias, até por conta da exigência do MEC, e é uma instituição de ensino superior, a empregabilidade é maior”.  

Em sua experiência anterior, de 24 anos em bibliotecas universitárias, Rosy destaca que havia, nesses espaços, uma separação de funções muito determinada, em que cada setor realizava uma atividade específica. Adicionalmente, Rosy aponta alguns aspectos da biblioteca pública que ela já conhecia, como a falta de recursos e de incentivos públicos. Mesmo com essas questões, a bibliotecária assumiu o cargo. Antes, Rosy atuava cinco horas por dia na biblioteca, o que hoje passou para oito horas de trabalho. Esse aumento na carga horária teve impactos positivos na visão da entrevistada, uma vez que o aumento da carga horária possibilitou que a concursada realizasse mais eventos literários e culturais na instituição. 

Em relação aos incentivos que a instituição recebe, Rosy afirma: “hoje, a biblioteca pública deu uma avançada muito grande. A nossa biblioteca tem um título muito importante, que é considerada a primeira biblioteca pública do Estado de Minas Gerais[…] Por se tratar de uma instituição pública e municipal, você está muito mais próximo dos gestores do que uma biblioteca pública estadual e do que uma biblioteca pública federal”. A bibliotecária faz questão de diferenciar que a biblioteca pública não se refere ao setor educacional, mas, sim, ao cultural: “é importante destacar[…] que a biblioteca, apesar de ser a primeira biblioteca pública do Estado de Minas Gerais, ela sempre participava da Secretaria de Educação. Em setembro, 30 de setembro do ano passado, de 2024, ela foi remanejada para a Secretaria de Cultura”. Rosy Mara acrescenta: “as bibliotecas públicas, para você ter uma noção, no estado de Minas Gerais, são 860 e poucos municípios, somente 209 possuem biblioteca, somente. E desses municípios, 209, somente 141 fazem parte da cultura, os demais são educação”. Isso implica falta de verbas, segundo ela conta, uma vez que as verbas educacionais já sofrem com limitações. 

Rosy Mara enfatiza que, na atualidade, a gestão de São João del-Rei tem investido mais na instituição: “então, as diretrizes, todas as participações que estou tendo em eventos e capacitações, agora sim, são direcionadas para a cultura”. Para a bibliotecária, é importante fazer a diferenciação entre biblioteca escolar e biblioteca pública, também, para que a segunda não perca sua identidade como equipamento cultural. Rosy Mara aponta que, nas escolas, muitos professores para uso da biblioteca são chamados de bibliotecários, e isso é um equívoco. É fundamental, para ela, que haja a devida formação em Biblioteconomia para que se nomeie uma pessoa como bibliotecária: “esse professor, ele tem a formação pedagógica, mas ele não tem as técnicas da biblioteconomia, e isso as bibliotecas escolares têm perdido muito, e as públicas que não têm esse profissional também têm perdido muito com isso”. Esses são alguns desafios reconhecidos por Rosy na prática de sua profissão.

Sobre o papel sociocultural desempenhado pelas bibliotecas públicas, Rosy destaca que o espaço da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d’Almeida é “de todos e para todos”, um espaço em que a diversidade é valorizada e acolhida: “nós temos cursos para Educação para a Morte, vamos ter curso de leituras terapêuticas, nós temos lançamentos de livros, saraus literários, com café, sem café, performance ligada ao teatro, exposição de artes plásticas, porque eu, como bibliotecária, e isso vários autores da minha área, pesquisadores, entendem que os tipos de leituras são múltiplas”. A bibliotecária afirma a importância de fazer desse espaço um lugar de encontro das diferentes formas artísticas e de investimento público para que ações culturais continuem acontecendo: “leitura em todo tipo de arte, a literária, a de artes cênicas, a de arte escrita, a de arte desenhada, a de arte grafitada, a de arte seja o que for, da arte falada, da arte sentida, dramatizada, tocada, cantada, são formas de linguagem. Então, eu estou tentando fazer os gestores entenderem que esse espaço é um espaço público. Inclusive, na reforma (do prédio da instituição), a minha proposta é de criar um espaço multimídia”. 

Tais ações expostas pela bibliotecária têm o objetivo de não só trazer a comunidade para o centro dos fazeres culturais, mas para manter a identidade do espaço: “nós temos um jardim belíssimo, nós temos aquele espaço, tentar transformá-lo em um espaço  em que possam acontecer lançamentos de livros, vernissages[…] eu tenho tentado, não só como recurso financeiro, mas ela empoderar da sua identidade[…] mostrar para a população, inclusive, que ela abriga toda a comunidade: LGTB, a comunidade negra, mulheres, empoderar mulheres, porque nós temos muito poucas mulheres que escrevem, isso é no Brasil, é histórico[…]”. 

Em relação ao espaço infanto-juvenil que faz parte da biblioteca, Rosy Mara fala de sua atenção ao público infantil e às obras literárias que são adquiridas: “eu participo das consultas públicas do Programa Nacional do Livro, eu faço esse trabalho voluntário, como bibliotecária, acho que é meu dever, como bibliotecária da biblioteca pública. E eu sempre acompanho quais são os livros, os títulos que o MEC está indicando para a meninada na escola, e a gente sempre adquire um ou dois exemplares de cada título”. A razão dessa atenção, conforme ela aponta, deve-se ao fato de que os pais sentem a preocupação de manter os filhos fora do predomínio das telas, assim os livros são uma possibilidade de cuidado com a base intelectual e lúdica das crianças e dos adolescentes. Rosy afirma que “o espaço infantil existe, ele é importantíssimo. Então, nós temos atividades de contações de histórias, oficinas de origami, nós temos vários tipos, massinhas, pinturas, esse espaço continua, ele é importante”. 

O público do espaço é, de acordo com Rosy, muito diverso: “nós temos usuários de quatro meses e meio, que é a Carolzinha, já tem carteirinha, como nós temos uma senhora já com 92 anos”. No entanto, ela pontua que a faixa etária entre 17 e 22 anos não tem frequentado a biblioteca nos últimos anos. 

Quando comenta sobre a parte mais gratificante de atuar na biblioteca e de construir um espaço cultural coletivo, a bibliotecária ressalta o retorno da comunidade e a satisfação em fazer o seu trabalho: “é muito bom, as pessoas que vêm lançar os livros aqui, que vêm realizar seus projetos, e quando eles conseguem alcançar os objetivos do projeto, é sensacional, é muito bom. É a satisfação, porque eu sou uma servidora pública, eu sou paga pelo município, e eu sou paga pelos munícipes, então eu tenho que servir a eles, eu estou aqui por eles, por eles e para ele”. 

Entre os desafios enfrentados nesse contato com algumas parcelas da comunidade, Rosy Mara descreve situações de questionamentos acerca de lançamentos de livros evangélicos e pouca frequência de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ e de pessoas com deficiência. De acordo com ela, é sua função procurar o que tem desmotivado esse público e reforçar que a instituição é laica, diversa e acolhedora para todos, incluindo as comunidades rurais e as crianças que nelas habitam, as quais devem ter acesso à literatura, na perspectiva de Rosy Mara. 

Nesse cenário de diferentes demandas sociais e de sensibilidade com os membros da comunidade são-joanense, a bibliotecária conta que está contribuindo com a montagem de uma biblioteca comunitária na comunidade do Araçá, a Biblioteca da CUFA (Central Única das Favelas). Para essa finalidade, Rosy reforça que a Biblioteca Pública Municipal recebe doações de livros e outros recursos do público frequentador já habituado e convida outras pessoas a realizarem novas doações. O saldo dessa iniciativa será encaminhado e compartilhado entre a Biblioteca Municipal e a Biblioteca Comunitária. 

Ao relatar sobre as experiências que mais marcaram sua vivência na instituição, a bibliotecária narra dois momentos em que o espaço cultural foi marcadamente um lugar de cidadania e de acolhimento. A primeira história que Rosy Mara recorda é a de uma menina, que tem quatro irmãos, cuja mãe não trabalha. A menina queria muito fazer a carteirinha e ter acesso aos livros, mas as dificuldades incluíam a impossibilidade de pagar a taxa de 10 reais e a distância para frequentar a instituição, já que sua família reside na zona rural. Rosy Mara lembra: “ela vem num carro que traz pessoas que precisam de atendimento médico, saúde, e ela sempre aproveita. E ela tem um celular, que ela pega a internet da zona rural dela, que ora pega, ora não pega, e às vezes pega, mas é à noite. E ela leva os três livros dela. E, quando ela inteirou 50 livros, ela me procurou e agradeceu o que a biblioteca tem feito por ela, que o sonho dela é fazer engenharia. Ela quer fazer engenharia mecânica”. 

Além desse relato importante sobre o papel social da biblioteca, Rosy Mara também se recordou de outro momento marcante, em que ajudou uma jovem de 19 anos a fazer seu currículo, indicou-lhe possíveis lugares onde ela poderia trabalhar, incentivou-a a continuar os estudos para se formar no Ensino Médio. Durante esse momento do relato, a entrevistada narra: “e falei assim, você não tem habilidade, você não consegue fazer nada de diferente? Ah, eu faço crochê cruzado, que a minha mãe e a minha avó faziam. Minha avó não faz mais, porque ela não enxerga mais direito. Ela foi me explicar o que é um crochê trançado. Aí eu mostrei pra ela o YouTube. Eu fui ver o que tinha isso, o que era isso que eu nunca tinha ouvido falar. E tem. Ela ficou vindo aqui quase um ano aprendendo a fazer o tricô. Ela fez umas peças, eu vendi todas as peças pra ela. Fui divulgando. Criei um Instagram pra ela”. Essas experiências de trabalho, mas essencialmente de vida, emocionaram a vida de Rosy Mara e mostraram, como ela mesma reforça, que a biblioteca pública e de todos e para todos: “nós precisamos pensar mais como um ser social. Nós precisamos, porque quando vocês vêm e fazem o empréstimo de uma obra na biblioteca, certamente numa padaria, numa cafeteria, na cozinha de uma casa de amigos, na sala, num bar, num botequim, seja onde for, vocês vão fazer em algum momento, alguma discussão, alguma observação sobre aquela leitura”. 

A auxiliar de biblioteca de 50 anos, Maria Lúcia Bernardino Gonçalves Pinto Rodrigues, atua há três anos na Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano d’Almeida. Malu, como gosta de ser chamada, confessa amar o trabalho que desenvolve na biblioteca e ressalta o que sente no cotidiano do exercício da profissão de auxiliar de biblioteca. Para Malu, a biblioteca é uma experiência concreta, é um espaço cultural sensorial, múltiplo e que abrange as diferentes percepções sobre o tempo, a história e a informação: “então é muito tudo muito real. É tudo muito palpável, sabe? É uma sensação assim muito boa, de se entender de onde você vem, como tudo aconteceu para a gente chegar até onde a gente está hoje. É remontar a história. Então, é, para mim, o que mais eu amo na biblioteca, porque eu gosto de tudo, mas o que eu mais amo de mexer, ler, pesquisar, estudar, são os jornais.”

Sobre o acervo da instituição, Malu ressalta a importância e a diversidade das obras e dos documentos e a relação desses itens com a relevância da manutenção da cultura são-joanense como patrimônio e registro: “bom, a gente mantém o nosso acervo, né? Que, como eu te falei, é passado, presente e uma visão do futuro, né? Que a gente tenta trazer coisas novas para São João. Então, eh, tipo assim, como é que eu vou te dizer, a biblioteca, ela está inserida no contexto cultural porque ela mantém dentro dela as fases mais importantes da nossa história. Então, se você parar para pesquisar, para ler o que tem no nosso passado, tá tudo aqui. A gente encontra tudo aqui. Tem muitos documentos que você não vai achar em lugar nenhum mais. São livros únicos. São raridades. São relíquias mesmo. E só encontra-se aqui. Então eu acho assim, a importância da biblioteca para a cultura é imensa, porque ela traz consigo a história da nossa vida, a história da nossa cidade, a história do nosso estado, uma parte da história do Brasil. Então, ela é de extrema importância nesse sentido. Ela faz uma conexão.”

Em relação ao que mais atrai a auxiliar de biblioteca na composição do acervo, Malu destaca os documentos históricos e especifica o que mais instiga a sua curiosidade: “nós temos aqui documentos, que são da câmara e da prefeitura, temos documentos diversos. Mas o mais importante para mim, o que mais me chama a atenção são os jornais.”

Malu e Dorinha no jardim frontal da biblioteca. Foto: Dirceu Vieira

Maria Auxiliadora Nascimento Pereira, de 62 anos, atua há 11 anos na instituição. Tratada carinhosamente por todos como Dorinha, a auxiliar de biblioteca entende e aborda sobre a importância de a biblioteca pública ser um espaço de cultura democrático de acolhimento e integração. Para ela, o que mais a comove e motiva o trabalho na instituição é o entendimento de que a história só pode ser construída se houver a participação ativa de todas as pessoas: “preocupação é mais, reunir o povão mesmo de toda a parte da cidade inteira. Abrir esse conhecimento. É abrir o conhecimento, fazer parte da nossa história. Essa riqueza. Cada um construir sua própria história, unida a outras histórias para formar um livro.”

Nesse propósito, Dorinha conclama as pessoas para que haja engajamento na construção conjunta do conhecimento e da história: “que viesse fazer parte da nossa história. Junto, somasse os conhecimentos. É um novo, assim, acúmulo de saber, né? Então, fazer parte dessa história que a gente tá vivendo, que é uma história permanente e viva. Que nunca morre, né? Que vai pro nosso futuro, pra eternidade, né? Então, que essas pessoas, o povão mesmo, que todo mundo fizesse parte. Que é de todos, né?” A auxiliar de biblioteca deixa entrever a potência criativa e inventiva que a experiência de vida de quem já percorreu muitos caminhos pode proporcionar para aqueles dispostos a escutar essa história. Dorinha faz mais que um convite, ela se dispõe com muita energia a escrever histórias conjuntas que cogitam e ressaltam o outro na diversidade que esse outro traz consigo: “Que todos e todas venham, né? E usufruam. Eh, o povo da cidade mesmo. Desse patrimônio. Não é só uma parte do centro aqui não. E que nos ajudem, né, a escrever histórias. É o que a gente precisava, né? De colaboração. Porque fica desfocado, né? Por mais que você faz, fica algo a desejar, né? É isso. Que nos ajude, eu amei essa frase também. Que nos ajudem a escrever a nossa história, né? A nossa história. Nossa história. Porque é a nossa história. Fazer parte do nosso livro vivo, né, diário. É a biblioteca mais antiga de Minas. […] A biblioteca é muito viva. Bem variada. Ela é muito viva. Mais do que nunca tá viva na nossa mente.”

Miriam, Malu e Cláudia trabalhando na recepção da biblioteca. Foto: Dirceu Vieira. 

A Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano d’Almeida é um espaço cultural de integração e de acolhimento com propósitos que podem estar vinculados ao escolar, mas desde que esse não seja o único ou o parâmetro principal, conforme ensina Rosy. A Biblioteca é, além de um importante espaço de aquisição de conhecimento, um lugar de memória que une passado, presente e futuro. Nas palavras de Malu e, como narra Dorinha, é um espaço de invenção por intermédio do qual a história é escrita conjuntamente por diversas e múltiplas mãos. Para a cultura são-joanense, a instituição possui valor inestimável e é importante que o reconhecimento desse valor seja transformado em ação concreta por parte das gestões políticas responsáveis para que, assim, esse espaço seja amplificado nas potencialidades que ele possui e pode desenvolver. Dessa forma, tornando-se ainda mais um lugar para que todas as pessoas possam se inscrever na história e se sentir pertencentes, como sujeitos verdadeiramente copartícipes.