Por Danielly Faustino, isabela barbosa e yanni santana


Um ensaio fotográfico foi realizado pela equipe VAN partindo do convite feito por Lélia Gonzalez em “Racismo e sexismo na cultura brasileira”, quando a autora “coloca o Brasil no Divã” e explora a dialética entre o consciente e o inconsciente nas construções culturais brasileiras. Em uma sociedade marcada pelo
“racismo por denegação”, como define Gonzalez, a consciência dominante opera pelo apagamento da história e das marcas da presença negra, deixando-as no insconsciente cultural e enaltecendo aspectos dos colonizadores.

Escolhidos como foco, Símbolos Adinkra, de origem africana, foram encontrados e registrados nos
portões e grades da cidade. Tais símbolos, oriundos da cultura Akan (Gana), carregam
significados profundos relacionados a valores, lições, provérbios e moralidade. Cada Adinkra
possui um significado específico que transmite a sabedoria ancestral.

Com este trabalho produzido, além de evidenciar os Símbolos Adinkra como rastros de uma memória africana resistente ao esquecimento, um resgate da cultura negra escondida em São João del-Rei é também proposto.

Sankofa


O Adinkra mais encontrado no centro histórico da cidade. Esta palavra é proveniente da língua twi ou axante (san: retornar; ko: ir; fa: buscar). Ela surgiu com o provérbio ganês “Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi”, que significa “Não é tabu voltar para trás e recuperar o que você esqueceu (perdeu)”. Representa que para construir um futuro melhor, é preciso conhecer o passado.

O símbolo Sankofa. Imagem: Reprodução

Embora esses Sankofa abaixo se assemelhem a um coração estilizado, outras variações do mesmo símbolo mostram um pássaro olhando para trás com um ovo no bico. Ambos carregam o mesmo significado: a importância de retornar ao passado para resgatar o que é valioso. O símbolo nos ensina que nunca é tarde para aprender com a nossa história e usar esse conhecimento para seguir em frente com mais sabedoria.

Dwannimme

Esse Adinkra tem o formato de dois chifres curvados que representa o carneiro, animal que luta com força, mas também sabe recuar com humildade. Ele simboliza a união entre força e humildade e nos
lembra que ter poder ou coragem não exclui a importância de ser respeitoso, generoso e consciente
das próprias limitações. É um convite ao equilíbrio entre firmeza e sabedoria no agir.

Odo Nnyew Fie Kwan

Adinkra que significa “o amor nunca perde o caminho de casa”. É um símbolo da fidelidade, do afeto verdadeiro e do poder do amor em sempre encontrar seu caminho de volta, mesmo diante das dificuldades.

Dwantire

Adinkra representado por um pente tradicional. Ele simboliza cuidado, ordem e boa aparência. É um lembrete de que o autocuidado — físico e emocional — é uma forma de respeito consigo mesmo e com a comunidade.

A coisa em comum que todos estes símbolos tem é que eles não estão apenas nos espaços sagrados, nos altares ou nas peças decorativas: estão nas relações, nos gestos de cuidado, na estética, na luta por liberdade e na reconstrução constante de espaços de pertencimento. Como propõe Lélia Gonzalez, a consciência hegemônica tenta impor o silêncio, mas a memória tem suas astúcias — e fala, apesar das tentativas de silenciamento.

As imagens aqui reunidas revelam essa fala simbólica que atravessa o tempo e o espaço. Cada símbolo fotografado nos convoca a reconhecer a presença negra na formação de São João del-Rei, na cultura, na espiritualidade e na vida cotidiana, tirando os Símbolos Adinkra do inconsciente e trazendo-os para a consciência.