Por Lívia Antoniazzi e Clara Lages

Entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro, a histórica cidade de São João del-Rei (MG) recebeu a quinta edição do festival gratuito Memória do Cavaquinho Brasileiro, idealizado pelo músico Pedro Cantalice e pelo professor Carlos Chaves. Este ano, as programações ocorreram no  Centro Cultural da UFSJ, Teatro Municipal e na Galeria Adro+. As atividades foram variadas, incluindo palestras, apresentações, oficinas especializadas e, claro, muita emoção. Diversos cavaquistas marcaram presença, compartilhando sua técnica e paixão. 

Apresentação musical na quarta edição do Festival Memórias do Cavaquinho Brasileiro. Foto: Renato Campos.

 O evento teve sua primeira edição em 2018, no Rio de Janeiro, com o objetivo de preservar e promover a cultura do Choro, dando destaque ao cavaquinho como instrumento central deste gênero musical. Desde 2022, o festival tem atraído cavaquistas e entusiastas do Chorinho, sendo então, um ponto de encontro para os amantes da música brasileira. De acordo com Pablo Araújo, um dos organizadores do evento, a primeira edição em São João del-Rei aconteceu em 2023 e encantou o público, por conta disso, o Memória do Cavaquinho Brasileiro ocorreu novamente na cidade, desta vez com uma curadoria cuidadosamente planejada. 

O festival teve uma abertura única com um Sarau realizado por Cissa do Cavaco e Léo Matheus, no Solar da Baronesa. O ponto alto do evento neste ano foram as oficinas ministradas por professores de música, como a “Oficina da Música Universal”, conduzida por Raphael dos Santos e a “Oficina de Choro”, liderada por Carlos Chaves. Nesses cursos de pequena duração, os participantes puderam ouvir uma breve contextualização da história do cavaquinho e do Choro, e tiveram a oportunidade de tocar seus instrumentos, vivenciando uma experiência musical cheia de cultura. Outro momento marcante foi o show com Henrique Cazes, que trouxe uma atmosfera comovente para o Teatro Municipal. Ao final de sua apresentação, o solista emocionou-se ao receber a notícia da inauguração do primeiro doutorado em cavaquinho no Brasil. 

Henrique Cazes e Raphael dos Santos tocando no show do Teatro Municipal. Foto: Rafaela Andrade

No último dia, o Sarau com Bruna Takeuti e Betinho Melodia, encerrou a programação e envolveu o público. Carla Gouvêa, professora no IF, foi uma das pessoas a prestigiar o festival e o elogiou dizendo que já espera ansiosa a agenda do ano que vem. Com esse evento, o Memória do Cavaquinho Brasileiro reafirma seu papel na preservação e expansão desse legado musical, unindo gerações em torno  do som singular e envolvente do cavaquinho.

Carlos Chaves ministrando a oficina de choro. Danielly Faustino

Cavaquinho no Brasil

O cavaquinho surgiu na região de Minho, posteriormente foi introduzido na cultura popular de Braga, em Portugal. Depois alcançou outras regiões: Cabo Verde, Moçambique, Havaí, Madeira e no Brasil. O instrumento chegou em território brasileiro juntamente com os colonizadores portugueses, mas foram, principalmente, os escravos que incorporaram em suas manifestações musicais, adaptando o cavaquinho na cultura. 

Os primeiros ritmos musicais a usarem o instrumento foram o choro e o samba. O choro nasceu no Rio de Janeiro, os primeiros grupos apareceram na década de 1870, e em 1889, com a Proclamação da República, ficou ainda mais popularizado, devido a busca pela ênfase da cultura nacional. Os músicos brasileiros, geralmente tocavam valsa e música europeia e, aos poucos, iam trazendo elementos de matriz africana, o que criou um um estilo sofisticado, melódico, cheio de balanço e improviso.

O cavaquinho tem extrema importância em nossa cultura. Em 2022 foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial no Inventário Nacional Brasileiro. Por ser um instrumento versátil, atualmente ele está presente em diversos ritmos, como frevo, forró, samba enredo, músicas populares e canções regionais, e conta com grandes nomes da música brasileira, como Arlindo Cruz, Paulinho da Viola e Dudu Nobre.