Por Igor Chaves

A chamada “comida de verdade” é rica em nutrientes e diversidade. Foto: Reprodução/FreePik

“Direito aos alimentos por uma vida e futuro melhores” é o tema da 43ª edição do Dia Mundial da Alimentação, promovido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) todo dia 16 de outubro. Em 2024, a instância da ONU propõe uma reflexão: mesmo com a agricultura produzindo comida suficiente para alimentar a população global, porque a fome ainda continua? 

Segundo o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo” (SOFI), promovido por cinco agências especializadas da própria ONU e publicado ainda em julho deste ano, 700 milhões de pessoas se encontraram em estado de subnutrição ao longo de 2023. No Brasil, os números apontam 2,5 milhões de cidadãos na condição de insegurança alimentar severa. Mesmo com os dados sofrendo quedas significativas desde 2022, o país ainda está no mapa da fome. 

É por esses e diversos outros dados que a FAO reforça, desde 1981, a necessidade das políticas públicas voltarem sua atenção para aquele que é o terceiro na lista de necessidades humanas básicas: o alimento. Para a entidade, a comida representa mais do que aquilo que colocamos à mesa – na verdade, ela é o resultado da soma de vários pontos que permitem a nossa existência enquanto seres humanos, como o meio ambiente e a qualidade de vida. 

Prato com hortaliças e verduras em cozinha solidária no Distrito fEDERAL
Hortaliças e verduras do Programa de Aquisição de Alimentos abastecem cozinha solidária de Sol Nascente (Distrito Federal). Foto: Reprodução/Agência Gov

Mesmo assim, falar em acesso à alimentação não é limitar-se ao prover. A própria FAO assegura que a comida também significa diversidade, nutrição e segurança. Possibilitar o alimentar é permitir que todos tenham acesso a alimentos saudáveis, frescos e variados, e sejam capazes de constituir uma dieta rica, equilibrada e adequada. É a chamada Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), que busca articular esses pilares em prol de uma sociedade cada vez menos faminta. 

É nesse contexto que iremos encontrar as diversas manifestações agroecológicas, muitas vezes responsáveis por alimentar a população ao redor do mundo. O dia 03 de outubro também celebra esse modelo de produção tão importante para a saúde da sociedade e do planeta, uma vez que é a partir dessa percepção que surgem as hortas de agricultura familiar, urbana e comunitária, e também programas de garantia à nutrição, como o Plano de Aquisição de Alimentos (PAA) e as próprias cozinhas solidárias.

Cozinha solidária em Sol Nascente, Distrito Federal.
Cozinha solidária em Sol Nascente, Distrito Federal. Foto: Reprodução/Agência Gov

No campo das Vertentes, a agroecologia está presente em diversas instâncias, como a Rede Trem Natural e a Associação de Agricultura Familiar e Agroecológica de São João del-Rei. Caminhando juntas, a primeira visa fortalecer o campo e a produção orgânica, que se mantém firme no que a FAO denomina como “transformação do sistema agroalimentar”. Já a AAFAS está na ponta do mercado, visando encurtar o caminho entre a população e a alimentação saudável e nutritiva. Ambas representam um polo de organização não só no âmbito da refeição mas, também, naquele que diz respeito ao desenvolvimento da comunidade.

É assim que o dia 16 de outubro lembra que cada um de nós temos um papel a cumprir. A FAO afirma que apenas quando todos puderem usufruir do direito humano à alimentação adequada, seremos capazes de promover os outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), responsáveis por assegurar o nosso desenvolvimento enquanto sociedade. A instituição aponta, contudo, que esta caminhada está só no começo. Um mundo seguro em termos de alimentos e nutrição exige grandes investimentos, além inovação científica e tecnológica, ampla colaboração entre diversos atores, pesquisas e estudos de instituições acadêmicas e, sobretudo, apoio dos poderes públicos. Por sua vez, essa articulação é o início daquilo que pode significar o equilíbrio do planeta, em termos de bem-estar social: a transformação agroalimentar impacta diretamente no meio ambiente, na paz, na resiliência, na inclusão, na saúde mental e, principalmente, na vida de cada cidadão. 

Eneto Dedo de prosa na feira, ocorrido em abril em São João del-Rei.
Em abril, o evento “Dedo de prosa na feira” ocorreu em São João del-Rei sob o tema “Integração do prossumidor da AAFAS na transição agroecológica no Campo das Vertentes”.
Foto: Reprodução/Rede Trem Natural