Fundação Memorial Dom Lucas recebe mostra do pintor Divino Silva, com obras que retratam as máquinas históricas

As locomotivas históricas da cidade de São João del-Rei são o tema da exposição que a Fundação Memorial Dom Lucas apresenta, com obras do  artista são-joanense Divino Silva (52). “Locomotivas Bitola 76” é o nome da série exposta no memorial, cuja abertura se deu nesta sexta (29). Durante o evento, foi apresentado um vídeo na recepção, mostrando o atelier do artista e suas obras. A abertura também contou com a participação do maquinista Alexandre Campos, que falou um pouco sobre os trens e sua história pessoal com as máquinas.

Um grande publico compareceu no Memorial Dom Lucas nesta sexta (29) (Foto/VAN: Rafael Nascimento)

Inaugurado em 28 de agosto de 1881, pelo então imperador do Brasil, Dom Pedro II, o complexo ferroviário de São João del Rei atualmente se encontra tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Suas locomotivas são modelos originais da empresa inglesa Baldwin, fabricadas para bitola de 0,76 m, o que torna o acervo único. A beleza das peças históricas – e a rara possibilidade de ainda poder andar pelos trilhos em uma delas – gerou muitas paixões e histórias ao longo dos tempos.

As obras da exposição Locomotivas Bitola 76 fazem parte da série feita pelo pintor Divino Silva (Foto/VAN: Rafael Nascimento)

Um destes apaixonados é o artista plástico Divino Silva, que realizou a série exposta no memorial, inspirado pelas locomotivas. Foi um quadro vendido em 2015 que reacendeu as memórias da infância do pintor, das viagens na linha para Tiradentes, e de quando levava os filhos para a festa do Jubileu,  na cidade vizinha. Após uma longa pesquisa, que durou entre seis e sete meses, o trabalho foi ficando mais apurado.

“Comecei a pesquisar, abri umas fotos na internet e tirei muitas fotos no Museu Ferroviário também, pois considero que a visão do artista plástico é diferente da do fotógrafo” disse Divino. Cada obra levou um tempo para ser realizada. “Uns quadros levam 14 dias, outros três ou quatro, depende do momento. São 17 quadros e eu estou muito satisfeito com os resultados, os trabalhos estão muito bons” ressaltou.

Divino Silva também é comerciante e, agora que os filhos já têm idade para tomar conta do comércio, está se dedicando mais ao fazer artístico. Faz aproximadamente 5 anos que ele voltou a expôr, e suas obras já estiveram em locais importantes para os artistas locais, como no Museu Regional, em 2015. Ele criou uma galeria em sua casa, aproveitando um espaço que não era utilizado, e tem intenção de começar a fazer exposições no local. Para o pintor, o Memorial Dom Lucas, onde expõe pela segunda vez,  é um espaço que precisa ser valorizado e aplaudido, pois acolhe os artistas de São João del-Rei “sem muita burocracia, de braços abertos”. Ele citou a dificuldade dos editais na área, que são muito técnicos e burocráticos, ao contrário do memorial.

Alexandre Campos (47) é maquinista, e contou um pouco da sua história com os trens de ferro, na abertura da exposição. Foi criado no bairro Matosinhos, e  desde criança os trens que passavam na região lhe despertaram interesse, o que acabou virando uma paixão. ”Eram vários, de função comercial, cargueiros, passageiros, e sempre que apitavam eu corria na linha para ver” diz Alexandre. Quando adolescente começou a frequentar a estação e fez amizade com os funcionários da linha e do museu. Aos poucos passou a trabalhar com pequenos reparos, pintura, manobras no pátio até que foi convidado para ser auxiliar de maquinista. Depois de alguns anos passou pelas provas práticas e teóricas necessárias e, finalmente, se tornou maquinista. “Trabalhar com essas máquinas centenárias é uma felicidade muito grande para mim” enfatizou. Quando veio o convite para abrir a exposição, ele aceitou de imediato: “vi que o trabalho dele era primeira linha, trouxe minha família, e estamos aqui hoje prestigiando.”

O pintor Divino Silva (à esquerda) e o maquinista Alexandre Campos, na abertura da exposição (Foto/VAN: Rafael Nascimento)

A Fundação Memorial Dom Lucas é um espaço aberto à cultura local e recebe exposições durante todo o ano, tanto na recepção, localizada no primeiro andar, quanto na pinacoteca, no segundo andar. Jean Carlos Abreu (24) é recepcionista no museu e explicou como se dá o contato entre a instituição e o artista: “basta a pessoa vir aqui entre 14h e 15h,  de 2h às 3h de segunda a sexta-feira, e apresentar uma proposta para a diretoria do museu. Caso seja aprovado, nós entramos em contato para definir uma agenda possível.”

O memorial está localizado na  rua Getúlio Vargas, 52, em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora do Pilar, e é aberto à visitação de terça a sexta-feira, de 09h às 12h e de 14h às 16h, e nos sábados e domingos de 8h às 12h. Além das exposições de artistas locais, há uma exposição permanente de obras relacionadas à vida e história de Dom lucas, e também de arte sacra.

Texto/VAN: Rafael Nascimento
Fotos/Van: Rafael Nascimento

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