A peça, que se ambienta na antiga Rua da Zona, busca sensibilizar o espectador para a realidade da personagem através do uso de bonecos

 

O espetáculo Camarim teve sua estreia na sexta (18) e seu segundo dia de apresentações no sábado (19), no AZ Hostel, em São João del Rei. Realizado pela Cia. Valentina de Teatro, a peça, com bonecos em escala humana, fala sobre a vida burlesca, rodeada de luxo, mas também de violência. A atriz e idealizadora, Luciana Antunes, 31 anos, dá vida à Marie em uma performance solo, que mescla o passado e presente da personagem, expresso pelo conflito entre as duas bonecas em cena.

Desenvolvido no Chile, o projeto, que levou dois meses para sua concretização, começa com a ideia de contar a história de uma dançarina, com todo o luxo e futilidade presente na vida do cabaré, mas ao longo do processo a atriz aprofunda seu olhar. “Eu fui mais a fundo no espetáculo do que simplesmente mostrar o que seria uma dança de Cancã, uma boneca dançando Cancã. Eu queria mostrar o que seria o ‘backstage’, o por trás das câmeras dessa história. O que acontece por trás?”, esclarece.  

Ao longo do espetáculo, percebe-se que o ‘backstage’ é referente à violência e ao machismo que permeiam esse ambiente e a vida da personagem, assim como o de muitas outras mulheres, que em sua trajetória passa de prostituta à cafetina. Por meio dos bonecos a atriz dá vida a histórias reais levantadas através de uma pesquisa feita por ela, que aparecem em forma de depoimentos ao longo da peça.

Foto/Reprodução: Alicia Antonioli

Para a proprietária do AZ Hostel, Flávia Maria Frota de Souza, 44 anos, esse tipo de evento, como a Feira da Boa Zona, tem um grande peso para o processo de revitalização da Rua da Cachaça, antiga Rua da Zona, que já foi cenário de bordéis, como na peça. “A rua foi zona no séc XVIII até a década de 90. Depois ficou abandonada, muitas casa pegaram fogo”, diz. Sobre a lotação do espaço ela conta que “foi uma surpresa”, já que foi a primeira vez que seu hostel foi palco para um evento desse formato. “No futuro, podemos vir a fazer outros eventos culturais”, comenta a jornalista e turismóloga.

O público reduzido por sessão, uma escolha proposital da atriz, intensificou a experiência do espetáculo, já que há um maior contato com os espectadores. Segundo o italiano Guido Boletti, 56 anos, artista plástico e morador de São João, o espetáculo vai além do que esperava. “Eu sabia que a companhia trabalhava com bonecos, mas nesse caso a interpretação da atriz exponencializou a apresentação”, conta. Ele fala ainda da importância de eventos assim para a cidade, “É importante para quebrar tabus, permitir que as cabeças se abram. Mesmo que seja um tema pesado, é uma peça que todos podem assistir”.

A atriz tem preferência por ambientes alternativos e menores, para que o clima do espetáculo seja melhor vivenciado. De acordo com Luciana, o espetáculo terá mais apresentações em São João, sem datas previstas. Em Tiradentes, acontecerá provavelmente no final do mês de maio.

Texto/VAN: Samara Santos e Filipe Reno
Foto/VAN: Alícia Antonioli

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