No dia 18 de maio, dia nacional da luta antimanicomial, Barbacena foi marcada por uma grande comemoração. Motivados pelo lema “SUStentar a Diferença: saúde não se vende, gente não se prende”, o evento contou com uma passeata, apresentações de hip hop, coral de alunos e atividades artísticas, além da presença de pacientes, familiares, estudantes, funcionários e comunidade local.
      De acordo com Lúcia Helena Barbosa, gerente da Coordenação de Saúde Mental do Demasp (Departamento Municipal de Saúde Pública de Barbacena), um movimento como este pode dar uma dimensão maior à questão da reinserção social do portador de transtorno mental. “A partir do reconhecimento da causa, a cidade começa a ter uma aceitação maior e o portador ganha um espaço na sociedade, que é de suma importância, essa é uma das finalidades do evento”, afirmou a gerente. Lúcia reforça o papel significativo de eventos como esse na integração desses pacientes, que durante muito tempo foram presos e excluídos.
      A gerente destaca ainda a finalidade do evento de fortalecer as políticas públicas. Pois o trabalho realizado hoje é baseado no serviço do SUS, o que justifica a campanha deste ano, “SUStentar a diferença”, com o objetivo de ressaltar o que tem sido feito pelo sistema. Lúcia lembra que a data é comemorada em todo o Brasil e nesse sentido, Barbacena tem muito a comemorar pela própria história que carrega, pois a cidade ainda é estereotipada como a cidade dos loucos, fato que tem sido modificado, sendo esta mudança mais um dos objetivos do movimento.
      Para a psicóloga Flávia Vasques, o evento objetiva também sensibilizar a sociedade sobre a convivência e a ressocialização do paciente psiquiátrico, já que um movimento de grande concentração – eram esperadas 300 pessoas para o cortejo – pode de alguma maneira chamar a atenção da comunidade, como um convite a um novo olhar para os portadores de transtorno mental. Para ela, a comemoração, englobando também a valorização dos conceitos do SUS, se torna uma grande festa comunitária para usuários, familiares, trabalhadores e sociedade.
     Quanto ao tratamento dado à questão da saúde mental em Barbacena, a psicóloga afirma que foram realizados grandes avanços. O processo de reforma começou em 2000, com a primeira residência terapêutica, em 2001 houve a criação do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) municipal e desde então há um acompanhamento dentro das diretrizes da reforma psiquiátrica, da luta antimanicomial. Há uma redução progressiva de leitos psiquiátricos, sendo esta uma política do governo federal e ainda há avanços em vários pontos da proposta.
      Cássio Barreto, também psicólogo, destaca que ainda este ano haverá a implantação do CAPS AD 24h junto com mais dois projetos do governo federal. Sendo eles o Consultório de Rua e a Escola de Redução de Danos. O psicólogo afirma que Barbacena é um dos três municípios do Brasil contemplados por essa verba. Ele espera que a atuação aconteça no próximo mês, atingindo a população de risco, comunidade, seria um atendimento não apenas a problemas com álcool e drogas, mas a todas as demandas.
      O psicólogo ressalta que há um incentivo do governo, mas que infelizmente no mesmo mês de comemoração, Barbacena recebeu 18 internações de pacientes vindos de Belo Horizonte, assim como antes eram recebidos os pacientes nos “trens de doidos”. O mesmo destaca que a data representa uma vitória, mas que os casos de internação também devem ser observados. É necessária uma constante vigilância para que não se repitam essas situações. Cássio conclui lembrando que o “grande enfrentamento da luta antimanicomial é tirar as grades que estão nas nossas cabeças”.
      Nesse aspecto, Lúcia Helena destaca que a rede barbacenense tem se qualificado. E o trabalho realizado na cidade através das residências terapêuticas é referência no Brasil inteiro. Em qualquer localidade em que irá acontecer a implantação desse método, é conhecido primeiro o que é produzido na cidade. Tal fato comprova a qualidade do que é proposto, que precisa ser ampliado.
      De acordo com a paciente Maria Conceição, o evento representa a igualdade entre todos e a instrução das pessoas sobre o que tem sido feito, como a questão da saúde mental tem sido melhorada. A mesma, residente em Barbacena por muitos anos, lembra que antigamente havia um forte medo dos pacientes por parte da sociedade e hoje já são perceptíveis as mudanças no tratamento. Maria acredita que seja a melhor opção a possibilidade de um tratamento sem prisões, a partir da socialização do portador.
      Para Maristela Guedes, artista e apoiadora da causa, o evento é uma comemoração. O movimento da luta antimanicomial já atingiu o que desejava, só que é necessário um constante reforço da causa, para que a luta seja lembrada e permaneça. Tal necessidade se justifica através do caso de 18 pacientes vindos de Belo Horizonte para serem internados em Barbacena, algo incompreensível perante tanto esforço. Assim, a artista percebe a necessidade de divulgação sobre o que está acontecendo, para que a população se conscientize da situação. Maristela acredita que o grande obstáculo para a luta antimanicomial é a falta de adesão da proposta por parte das clínicas particulares. Pois, apesar de ser lei, as mesmas ainda recebem pacientes internos, podendo ter alguma lei que as permita, caso contrário não aconteceria. Porém, a população em geral abraça a causa, afirma. O movimento tem a que conquistar, é um processo de passo a passo.
      Reportagem e fotos: Bruna de Faria.
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