Intitulado “Pastorinhas” um
grupo folclórico do sudeste do país é conhecido e constituído de crianças, no
geral meninas, trajadas à pastora. No período natalino visitam as residências e
igrejas, cantando na Missa do Galo ou noutra celebração. Saúdam os presépios nas
igrejas, casas com cantos, danças e toques instrumentais.
Essa tradição tem bases
histórico-ibéricas. Através de variados personagens e por vezes de cenas
dramáticas, anunciam o nascimento de Jesus e episódios referentes à boa nova,
tais como a visita dos magos e dos pastores. Não é grupo pede ofertas, mas
levam uma bandeja sobre a qual se pode depositar o donativo voluntário que, são
doados parte para a paróquia e  entidades assistenciais.
Existe Brasil afora diferentes versões dessa
manifestação. No centro-sul do estado, na microrregião Campo das Vertentes persistem
três grupos ativos, sendo um em
São João del-Rei, outro em Tiradentes e um terceiro em São Tiago.
Segundo dona Antônia Geralda Santiago
(folclorista e coordenadora do movimento), “não se tem data precisa de sua
introdução na cidade de São Tiago, o nome do primeiro responsável ou de onde
seria o seu modelo. Já existia na década de 1940 um movimento organizado pela
sua mãe, Percília Maria da Conceição”. Porém, mais tarde assumiu o grupo para
dar continuidade a tradição na cidade. 
Anos se passaram e por força maior desativou-se em 1981. Reativando anos
mais tarde, com notável apresentação na Festa do Divino, de São João del-Rei.
O grupo conta com 16 a 20 crianças
pré-adolescentes. As Pastoras trajam-se de vestido branco, com avental
vermelho, chapéu de palha com fita vermelha ao redor da cabeça. Carregam
xique-xiques feitos de tampinhas de garrafas amassadas, trespassadas por um
arame e presas a uma haste de madeira. São os únicos instrumentos. Há também os
personagens: São José, Nossa Senhora (que carrega a imagem do Menino Jesus,
oferecendo-a para o beijo devoto) e os Três Reis Magos, todos com trajes
característicos de personagens bíblicos.
A coreografia das partes é quase
inexistente, limitando-se o pé de dança ao balançar ritmado do corpo na
cadência da toada musical.
O grupo mescla características
eminentemente folclóricas com outras de origem erudita ou popular, como o hino
católico cantado em latim.
Sua organizadora, Antônia Geralda Santiago é
uma devota afeita aos rituais da igreja, sendo muito ligada à vida musical dessa
cidade e a outras manifestações folclóricas locais.
O primeiro canto que entoam é o seguinte:
Natal! Natal!
Os anjos cantaram
Glória in excelsis
Nasceu Jesus!
glória a Belém,
ao peregrino,
Nasceu a vida,
hinos entoaram
Filho do Eterno,
nasceu a luz.
vamos também.
Jesus Menino.
A primeira quadra é muito tradicional
funciona como refrão.
A seguir entoam qualquer outra peça do
repertório, que inclui também a conhecida canção natalina “Noite Feliz”, de
Franz Gruber. Não há ordem fixa para a execução. Outro canto:
Louvemos ao Filho
Louvemos ao Filho
Louvemos ao Filho
da Virgem Maria;
que veio da altura;
que é feito menino;
que glória na Terra,
tomando os aspectos,
terá sobre a Terra,
no céu alegria!
da humana figura!
sublime destino!
Também aqui a primeira quadra é o refrão.
Vinde cristãos,
Foi numa noite venturosa
Juntemos aos pastores,
vinde à porfia,
em que nasceu o Salvador
vamos com eles a Belém
cantar um hino de louvor
e os anjos com voz harmoniosa,
e lá nós cantemos
hino de paz e alegria.
deram no céu este clamor.
ao Salvador que hoje vem.
O refrão lamentoso é em latim: “Glória! /
In excelsis Deo” (Glória a Deus nas alturas).
Ainda em latim, cantam um tradicional
hino natalino. A tradução é uma gentileza do professor Antônio Gaio Sobrinho:
Adeste fideles
(Aproximai-vos fiéis
Natum videte
(Vêde nascido
laeti triunfantes,
alegres, triunfantes,
regem angelorum!
o Rei dos Anjos!
venite, venite,
vinde, vinde,
Venite, adoremus! – bis
Vinde, adoremos!
in Bethlém!
a Belém!)
Venite adoremus Dominum
Vinde adoremos o Senhor!)
O grupo é relativamente simples na sua
estruturação, com poucos personagens, conservando sua tradicionalidade. Sua
singeleza não lhe diminui o valor, senão mesmo o reforça.
“A organizadora do movimento tem grande
apreço em continuar com a tradição por ter sido pastorinhas quando criança e
levar as outras crianças de hoje a ser também um (uma) pastorinho (a) e visitar
os presépios da cidade na época natalina. O movimento ainda existe porque busca
incluir crianças da catequese e que frequentam a igreja com os pais. Não recebe
verbas de entidades, mas procura ajuda com outras pessoas a fim de conseguir as
roupas e acessórios”, declara Carlos José da Silva pai uma pastorinha.
A professora e historiadora, Paulina
Viégas, regente de aulas no Ensino Fundamental e Médio, na rede estadual de São
Tiago, afirma que: “esse tipo de manifestação popular são importantes por
manter viva a história oral e enriquece o folclore e a regionalidade. As
manifestações da cultura popular o cidadão comum/simples passa a fazer parte da
história e memória local”. Por fim, concluiu que: “na educação básica (anos
finais do Ensino Fundamental e Médio) temas como esse não vem nos livros
didáticos, mas que de acordo com o planejamento pode ser incluído no mês de
agosto como atividades culturais e folclóricas”.
Reportagem: Marcus Santiago, Samantha Cardoso e Ruzza Lage.
Foto: Arquivo Jornal Cidadania.
   —
Para copiar e reproduzir qualquer conteúdo da VAN, envie um e-mail para vanufsj@gmail.com, solicitando a reportagem desejada. É simples e gratuito.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.