Ivis de Lima fala sobre o projeto Cachaça de Minas
Marina Ratton
Ivis Bento de Lima, idealizador do projeto Cachaça de Minas, professor aposentado da UFSJ – DCECO (Departamento de Ciências Econômicas).
Foto: Marina Ratton
VAN: Como surgiu o projeto cachaça de Minas?
Ivis: Nós observamos que havia muitos produtores de cachaça clandestinos, mas que o produto que eles faziam era de boa qualidade, embora não existisse higiene alguma, nem um parâmetro adequado para que isso acontecesse. Então, resolvemos criar associações que agregassem todos esses produtores e que eles pudessem fazer uma bebida de ótima qualidade. Mas, em toda atividade encontramos dificuldades, como a aceitabilidade das pessoas, a própria parte financeira, Criamos um projeto com o Ministério de Desenvolvimento Agrário e partimos para a execução. Esse projeto está sendo desenvolvido até hoje.
VAN: Quem faz parte do projeto?
Ivis: O projeto foi desenvolvido por mim, em parceria com o Ima, Emater, Epamig, Embrapa, Banco do Brasil e a Prefeitura Municipal, através da Secretária de Agricultura. É um projeto difícil de ser implementado, porque envolve pessoas, mudanças de ideias, mas estamos trabalhando incansavelmente nele.
VAN: De que forma contribui para a valorização do produto?
Ivis: A partir do momento em que você busca a qualidade e a higiene do produto, a certificação dele, quer seja no âmbito municipal, estadual ou federal, já agrega valores, e isso contribui para o desenvolvimento da atividade.
VAN: Como é o consumo da cachaça em Minas?
Ivis: Os próprios mineiros gostam de degustar uma cachaça diferente daquelas que eles já conhecem, buscando sabor, teor alcoólico. Quem gosta de cachaça, quem é um apreciador de cachaça não é o “cachaceiro”, aquele que bebe para ficar tonto. O bom conhecedor de cachaça busca sempre aquela que atenda à exigência do seu paladar. Em cada país, há uma atividade baseada no álcool, como em Cuba tem o rum, os ingleses adoram o wisky e, no Brasil, temos a cachaça, principalmente na região de Minas Gerais, que é um grande produtor de cana-de-açúcar. Depois que se colocou, no próprio Palácio da Alvorada, a bebida como um produto brasileiro que é servido em vários jantares, a cachaça brasileira se tornou um produto elitizado. E, a partir disso, os produtores que antes faziam a cachaça de qualquer maneira, hoje buscam uma qualidade não só na plantação da cana, mas em todo o processo, até chegar na elaboração do produto final.
VAN: E quanto ao processo de legalização?
Ivis: Esse processo é longo e difícil, porque o Ministério da Agricultura exige o máximo do produtor. Nós temos dois tipos de cachaça: a artesanal e a de coluna. A cachaça de coluna é produzida em alta escala, como a 51, a Velho Barreiro. Esse tipo de produção de cachaça tem um imposto muito menor do que a cachaça artesanal, por isso a cachaça artesanal se torna um pouco cara. Para que se certifique uma cachaça com selo, tanto do Ministério da Agricultura quanto do Instituto Mineiro de Agropecuária, é exigido muito do produtor. Por isso, muitos preferem ficar na clandestinidade. Mesmo assim, nós temos aproximadamente quase 2 mil produtores de cachaça artesanal em Minas Gerais, dos quais em torno de 800 são certificados e os outros colocam a produção em venda, mas não têm certificação.
VAN: Como é feita a classificação das cachaças em Minas?
Ivis: Existem cachaças de excelente qualidade, sem dúvida nenhuma. Elas são realmente muito boas, têm qualidade, são cachaças de primeiríssima. Existem outras que são boas, mas que não são classificadas nas revistas ou em alguns órgãos, porque elas não pagam para sair nesses meios de veiculação. Então, existe a classificação de boas cachaças, mas que não pagam publicidade, e com isso, não aparecem.
VAN: A Cachaça Jacuba está em quarto lugar?
Ivis: Sim. Há três anos, nós fizemos um composto das melhores cachaças de Minas Gerais. No caso da Jacuba, nós obtínhamos a cachaça em volume de doze garrafas, aproximadamente. Dessas doze, tirávamos uma e coletávamos a amostra. Somente uma pessoa sabia qual era a marca daquela cachaça da amostra. Remetíamos, então, para o órgão que ia fazer as análises de rótulo, de qualidade e tudo o mais. Posteriormente, nós dávamos o resultado. Então a Jacuba, das cachaças que nós fizemos a análise, ocupou o 4° lugar. Em 1° lugar foi uma cachaça de Divinópolis, chamada Diva.