São João del Rei, Santa Cruz de Minas e Tiradentes têm perfis diferenciados de cursos para quem não pode pagar por aulas em unidades particulares.

Foto: Lucas Teixeira
Foto: Lucas Teixeira

O Governo Federal tem, nos últimos anos, investido na democratização do acesso ao ensino superior com políticas de cotas e isenções de inscrições para estudantes da escola pública. No entanto, estas medidas ainda se mostram insuficientes em termos competitivos. Por isso, iniciativas na região buscam, há cerca de três anos, complementar o cotidiano escolar público de modo independente, através da criação de cursos preparatórios gratuitos. Assim, alunos que não podem estudar em unidades particulares voltadas exclusivamente para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) têm mais chances de competir com os que podem.

É o caso do estudante de São João del-Rei, Carlos Daniel, de 17 anos, que deseja cursar agronomia. Quando professores do cursinho popular Edson Luís foram até a sua escola divulgar o início das aulas, ele viu suas chances aumentarem. “É muito importante essa oportunidade que a gente tem, porque não é todo mundo que pode pagar um cursinho. Isso ajuda muito as pessoas que querem ser alguém na vida”, relata.

Como iniciativa do Levante Popular da Juventude em parceria com estudantes da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e voluntários, o Cursinho Popular Edson Luís surgiu a partir das manifestações de junho de 2013. Naquela época, questões relacionadas ao direito à educação gratuita entraram na pauta das mobilizações e, junto com elas, o projeto pedagógico se desenvolveu. Assim, existe também um trabalho de mobilização para atrair alunos, realizado tanto nas escolas quanto em campanhas nas redes sociais. O professor, Luiz Bugarelli, explica que muitos estudantes, às vezes, sequer pensam em fazer o Enem: “Apesar de ter acontecido uma ampliação do acesso ao sistema superior, isso não chega às escolas públicas. Os alunos ainda não tem consciência do direito à educação”.

Neste sentido, a pedagogia chega a ser uma forma de ativismo também, para Bugarelli. “Cada cursinho popular como esse é uma trincheira de luta. Porque as universidades não foram feitas para receber o povo, mas a uma parcela muito pequena da população que teve acesso a educação de qualidade”. O professor ressalta ainda que o cursinho, com sede no Sindicato dos Metalúrgicos de São João Del Rei (Sindmetal), é um projeto de extensão da UFSJ. E visa ajudar inclusive, além dos estudantes, trabalhadores que pararam de estudar.

Cursinhos gratuitos na região

Em Santa Cruz de Minas, a iniciativa de um curso preparatório gratuito para o Enem surgiu em 2015 a partir da Prefeitura. Funcionava inicialmente aos sábados com uma carga horária de 10 horas. A experiência logo se revelou cansativa para os alunos. Por isso, no ano passado, as aulas começaram a acontecer durante toda a semana no período da noite. Agora, outras mudanças estão previstas a fim de melhorar ainda mais o projeto. A chefe de seção da secretaria de educação, Maria Regina Paiva Gomes de Moura, adianta que o curso, além de diário, será oferecido em um período mais próximo da prova, com um perfil intensivo para evitar desistências.

Por isso, inscrições e aulas ainda não começaram. O local também não foi definido. Cogita-se, segundo Moura, uma parceria com a Escola Estadual Amélia Passos para que o curso possa ser oferecido em dois turnos e atender uma parcela maior de estudantes. Além de todas as matérias do ensino médio e material completo, a prefeitura prevê ainda a distribuição de lanche para os alunos. Para a chefe de seção, a iniciativa tem se revelado um sucesso em termos de ação educativa. “Muita gente participou e vários foram muito bem classificados. Teve quem passou nas universidades e teve quem não passou nas universidades, mas que, ainda assim, prestaram algum tipo de concurso e foram chamados graças ao cursinho, segundo eles próprios nos relataram”.

Em Tiradentes, o projeto de Aulas Livres para o Ensino Médio (Alem) tem um perfil diferente de todos os outros cursos das cidades vizinhas. As aulas são livres no sentido de que os alunos é quem escolhem o conteúdo que desejam estudar na hora que bem entendem.

Os professores voluntários oferecem o conteúdo de nível médio divulgado em um cronograma de aulas mensalmente na página do projeto no Facebook (https://www.facebook.com/PROJETOALEM/) e os estudantes não precisam nem fazer inscrição, apenas vão à Escola Basílio da Gama, onde funciona o curso, e assistem às aulas.

O Alem iniciou-se no ano passado e só tem alguns meses. Foi idealizado pelos professores Marcelo Sevaybricker (UFLA) e André Flávio Soares Rodrigues (UFSJ). “O projeto não faz uma preparação para o Enem ainda, estamos no início, mas ajuda. Começamos em agosto com pouca gente e está aos poucos tomando corpo, com pessoas se integrando, tanto alunos como professores. Não tem qualquer recurso. Nenhum professor é remunerado e dependemos totalmente do trabalho voluntário”, relatou Sevaybricker. O professor também disse que falta alguns professores em algumas áreas e aproveita para fazer um convite a outros profissionais que queiram contribuir com esta iniciativa educativa. O contato também é pelo Facebook.

Texto/VAN: Daniela Mendes/Lucas Teixeira/Scarlet Freitas

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