Cerca de 40 estudantes, professores e técnicos seguiram rumo à Marcha “Ocupa Brasília”  contra reformas propostas pelo Governo Federal e em reivindicação por eleições diretas.

Foto: Marcius Guarani Kaiowá
Foto: Marcius Guarani Kaiowá

No final da tarde desta terça-feira (23), um ônibus da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), organizado pelo Sindicato dos Professores e pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, seguiu rumo à Manifestação “Ocupa Brasília”.

O ato, convocado por movimentos sociais e centrais sindicais,  que aconteceu nesta quarta-feira (24),  teve sua concentração nos estacionamentos do estádio Mané Garrincha e na Torre de TV, seguindo depois em direção ao Congresso Nacional. Organizado, inicialmente, contra as reformas trabalhista e da Previdência, o ato registra os pedidos de renúncia do atual presidente Michel Temer e gritos por “Diretas já”, que ecoam desde o escândalo dos grampos e das delações premiadas da JBS.

Os organizadores falam em mais de 100 mil pessoas. Contudo, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (DF) afirmou que havia 35 mil manifestantes. O número estimado de ônibus que foram de outros Estados para Brasília oscila entre 500 e 600 veículos.

Um esquema especial de trânsito e segurança foi adotado pelo governo do Distrito Federal na área central de Brasília desde a 00:00h. Foram cercados por grades os acessos ao Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal e ao Palácio do Planalto. Cerca de 1,5 mil profissionais integraram o esquema de segurança.

Segundo o técnico de Laboratório da UFSJ, Marcius Guarani, a manifestação se  iniciou de forma  pacífica, mas os policiais começaram com ações  repressivas, desencadeando a confusão que se instaurou: Os PMs foram truculentos, violentos. Fomos massacrados pela polícia.

Garani relatou ainda que houve muitas prisões e detenções.

Um estudante da UFSJ que preferiu não ser identificado foi atingido por uma bala de borracha no olho e está sendo tratado no Hospital de Base. Ele passará por uma cirurgia e está acompanhado por uma advogada do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES), além de uma professora não identificada.

Sobre a manifestação

A marcha teve concentração nos estacionamentos do estádio Mané Garrincha e da Torre de TV e caminhou em direção ao Congresso Nacional, tendo início por volta das 11:00 horas.

O clima da marcha ficou tenso por volta das 13h:30, quando alguns grupos chegaram ao bloqueio policial, em frente ao Congresso. Alguns manifestantes tentaram invadir o parlamento, mas a polícia repeliu a tentativa com spray de pimenta. Em um dos carros de som, sindicalistas clamavam por uma marcha pacífica.

Durante o movimento, líderes sindicais anunciaram de um carro de som que nenhum “mascarado” poderia participar da mobilização. “Estamos de olho”, anunciaram; também pediram para quem estivesse com o rosto coberto, a retirada da máscara.

Durante o protesto, foram disparadas bombas de gás e efeito moral. A cavalaria da PM chegou a investir contra os manifestantes que responderam jogando paus e pedras. Com o agravamento dos confrontos, os prédios da Esplanada dos Ministérios foram evacuados, pois, no mínimo, três prédios foram afetados (o do Ministério do Meio Ambiente e do Planejamento). O da Agricultura foi alvejado por um explosivo lançado por um dos manifestantes,  causando incêndio.

Por volta das 17h:30 os manifestantes chegaram à rodoviária de Brasília. O Batalhão de Choque seguiu jogando bombas de gás lacrimogêneo. Policiais intimidaram os manifestantes, usando spray de pimenta. Usuários de transporte público foram atingidos.

O confronto entre a PM e os manifestantes acalmou-se por volta das 18:00h, quando os manifestantes retornaram ao estádio Mané Garrincha, ponto inicial da marcha.

No Governo

No plenário da Câmara, foi convocada uma sessão extraordinária para analisar o projeto que convalida isenções, concedidas no âmbito de guerra fiscal, entre os estados. Deputados da oposição pediram “Diretas Já” e a saída de Temer. A sessão acabou sendo adiada, mas por volta das 16:00h, foi retomada, enquanto a oposição continuou ocupando a mesa aos gritos de “Fora Temer”.

Em pronunciamento, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que “a manifestação degringolou para violência vandalismo, desrespeito, agressão e ameaça” e solicitou reforços das Forças Armadas para controlar a situação na Esplanada dos Ministérios.

Após empurra-empurra generalizado na Câmara, o presidente Rodrigo Maia adiou novamente a sessão. Com o retorno, alguns deputados da base e da oposição se agrediram fisicamente, após  o decreto da presença das Forças Armadas na rua por uma semana (de 24 a 31 de maio), a fim de garantir  a ordem.

O senador Randolfe Rodrigues criticou a decisão do presidente Michel Temer de recorrer às Forças Armadas e comparou o cenário atual à ditadura militar:

  • “O presidente está querendo romper o nosso frágil tecido constitucional. O uso das Forças Armadas cabe quando todos os mecanismos policiais de segurança tiverem sido esgotados. Mas não é o caso. Não foram esgotados”.

Logo após o decreto do presidente Michel Temer, autorizando  a convocação das Forças Armadas, senadores da oposição reagiram no plenário. Uma questão de ordem sobre o decreto foi apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues.

Às 18h:30,  a sessão  retornou novamente. O presidente da Câmara pediu para que, caso não fosse possível o cancelamento, o Governo mantivesse a presença das Forças Armadas apenas para esta quarta-feira (24). Em resposta, para contornar a crise, o presidente Michel Temer enviou nota a Rodrigo Maia dizendo que “o emprego das Forças Armadas tem amparo legal e que o objetivo é preservar a ordem pública e a segurança das pessoas.”

Por isso, armados com fuzis, 300 militares fazem guarda aos prédios do Planalto, sem hora para deixar o posto.

Segundo o Governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, a convocação das Forças Armadas pelo presidente Michel Temer foi uma medida extrema. “Para surpresa do Governo de Brasília, a Presidência da República decidiu na tarde de hoje recorrer ao uso das Forças Armadas, medida extrema adotada sem conhecimento prévio e nem anuência do Governo de Brasília e sem respeitar os requisitos da Lei Complementar nº 97/99”, diz em nota.

De acordo com informações dos militares, as Forças Armadas têm um total de 1500 homens à disposição do Governo Federal para atuar no DF.

Texto VAN: Yasmim Nascimento

Equipe VAN: Agnes Reitz, Clara Mattoso, Daniela Mendes, Fernanda Almeida, Júlia Ribeiro, Samuel Fagner Alves, Victória Souza  

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.