Professoras leigas: amor e dedicação ao Magistério
Em São Tiago, inúmeras professoras leigas atuaram como regentes de turmas em estabelecimentos públicos de ensino ou mesmo dando aulas particulares. Dona Gabriela Maria de Jesus, mais conhecida como Biela, foi uma dessas pessoas que se destacaram no ensino. Filha de João Simão dos Santos e Maria Luiza dos Santos, nasceu em 4 de outubro de 1933. Dona Biela pôde estudar somente até o 4º ano primário, pois era o último grau de estudo oferecido em São Tiago na época.
Concluiu em 27/11/1948 e a diplomação se deu em 05/12/1948, no prédio do antigo Grupo Escolar “Afonso Pena Júnior”. Na época, a diretora era dona Ana Teodora da Silveira Alves. Teve por professoras Alva Romeiro Silva, Rosália Alice de Carvalho, Maria José Fonseca e Cecília Ribeiro Silva, com quem aprendeu muito.
Anos depois, durante o período letivo, as professoras, observando que alguns alunos tinham grande dificuldade de aprendizagem ou eram repetentes na mesma série, por muito tempo encaminhou-os para dona Biela que, rapidamente, alfabetizava e ensinava as operações matemáticas. Ao ser perguntada se tinha algum segredo de ensinar, dizia: “Disciplina, muitos exercícios, cópias, até a criança aprender enquanto estivesse comigo. Talvez tivesse que ficar até sem brincar no dia da aula particular para aprender. E assim, acabava tendo responsabilidade com a escola.”
Sabendo da sua habilidade para ensinar e precisando de uma professora para lecionar na Escola Rural do Povoado Jorge, na hora do almoço bateu à sua porta o prefeito, Sr. José Resende Santiago (1955-1958), que a convidava a assumir o contrato de regência de aulas na localidade. Muito simples, respondeu: “Não sou professora, só tenho o 4º ano.” O prefeito e um funcionário que estava com ele convenceram-na a dar as aulas, por saberem que dava conta, além de que seria supervisionada pela coordenadora das professoras.
Assim, rumou para o povoado do Jorge e ficou residindo na Fazenda do Sr. Hélio. Na roça, tinha dificuldades de locomoção, de forma que ia para a escola a cavalo. Começou a lecionar para turmas únicas compostas pelas quatro séries. Numa de suas turmas, havia 40 alunos. Quando recebeu o salário pela primeira vez, foi até a prefeitura e o funcionário separou um monte de notas e disse: “Esse é o salário da senhora, Dona Biela!”. Ela conta que se assustou com tanto dinheiro, pois nunca havia recebido uma quantia como aquela. Sua irmã lhe disse para guardar no banco.
Dona Biela vinha à cidade apenas nas épocas de missa dedicada ao Coração de Jesus e em outras festas da cidade. Tinha grande prazer em dar aulas e gostava muito das crianças. Deu aulas na rede municipal durante quatro anos e seis meses. Dona Gabriela, como outras professoras leigas, foram, aos poucos, encerrando suas atividades, para dar lugar às professoras formadas que estavam chegando de Oliveira (Escola Normal Nossa Sra. de Oliveira) e São João del-Rei (Colégio Nossa Sra. das Dores).
Dona Gabriela se destacou também pela catequese que ministrava em sua casa. Preparava crianças para cantar nos corais e ainda realizava em sua casa, nos meses de maio, a coroação de Nossa Senhora.