Tempos de infância lá em Cordeiro
Que saudade dos meus tempos de infância!
Cresci em Cordeiro. Minha pequena Cordeiro, acanhada, calma, cercada pela Serra fluminense. E quanto mais eu crescia, mais mergulhava na cidade, mais a cidade mergulhava em mim. Cresci acanhado, calmo, cercado pela serra fluminense. Cresci em Cordeiro.
Cresci na casa dos meus pais. Nem grande, nem pequena: do tamanho da gente. Nossa casa sempre de portas abertas aos parentes, aos amigos; sempre barulhenta, sempre viva. E ainda mais viva depois do dia em que meus pais entraram pela porta da frente com meu irmão nos braços.
Nossa casa sempre musical. Meu pai gostava de tocar seus CD’s, minha mãe gostava de tocar seu violão. Logo cresci com gosto por tocar meus CD’s, tocar meu violão, sendo eu sempre uma mistura dele e dela.
Saudades do tempo em que não havia grandes preocupações na vida e me bastava o carinho e a atenção de quem estava ao meu redor.
Cordeiro era pequena, mas era o meu mundo. Vasto, cheio de gente, cheio de surpresas e com a forma de uma bola de futebol. Com os amigos eu desbravava esse mundo, gastava meus dias correndo pelas ruas do bairro, de uma quadra para a outra. A imaginação me levava longe. Mesmo sendo de longe um dos menos habilidosos com a bola nos pés, eu me sentia um grande craque. A imaginação expandia meu mundinho tão pequeno.
Era feliz em meus tempos de criança. Feliz porque não me preocupava com a felicidade. Feliz porque a vida era simples, a paz era barata. Feliz porque sentia bem próximo a mim o calor amor de meus pais e tinha ao meu alcance o carinho de avó, o que hoje só me faz transbordar de saudades.
Logo fui crescendo, descobrindo outros gostos, conhecendo outros mundos. Os tempos de moleque foram ficando para trás, mas continuam frescos em minha memória. Os tempos foram mudando e eu fui mudando de tal forma que em alguns momentos já não sabia ao certo se era o menino que crescia ou alguém novo que surgia.
É como se o Presente fosse tudo o que está em frente de meus olhos, e o Passado tudo aquilo que está por trás de mim. Passado e presente coabitam o mesmo espaço tempo, à minha frente e às minhas costas, penetrando meu corpo e juntando-se em uma coisa só.
Que saudade!
TEXTO/VAN: João Vitor Bessa