Jornalismo e Religião
senhor chegou a ser coroinha e depois seminarista. O que o levou a seguir essa
vida, e por que você não se tornou padre?
evangelho tem uma frase que diz o seguinte: “muitos são chamados, mas poucos
são os escolhidos”. Eu não fui escolhido, então é isso aí, eu entrei no
seminário em 1959, eu tinha 11 anos. Fui estudar em BH e eu percebo hoje como o
seminário marcou a minha vida, minha formação, minha índole, temperamento. Hoje
eu encontro com meus amigos seminaristas em Belo Horizonte – nós temos um grupo
muito grande que faz encontros – e eu vejo o seguinte: nós todos somos mais ou
menos parecidos. [No grupo] tem médicos, engenheiros, jornalistas, advogados,
mas que têm uma marca, como um tipo de gente que está meio deslocada, que não
sabe se esse é o mundo dela mesmo, sabe? Mas é bacana.
a escolha do Bispo Mathias (o primeiro Bispo), os Bispos já foram escolhidos de
formas variadas. Na sua opinião, qual seria a maneira correta de escolher um
Bispo?
o primeiro Bispo, sucessor dos apóstolos, foi escolhido no sorteio, porque
Judas Iscariotes havia se matado e era necessário preencher a vaga dele. Os
bispos são considerados sucessores dos apóstolos e hoje eles são escolhidos
pelo Papa, há um processo muito refinado, muito interessante, em que os
candidatos passam por uma triagem muito grande, um esquema de investigar a vida
de todo mundo e, mesmo assim, de vez em quando passa algum que não é lá muito
bento não! No passado já foi diferente. Durante muito tempo, os Bispos foram
escolhidos por seu fiéis, pela comunidade, depois a coisa foi evoluindo, até
chegar nesse sistema atual, em que o vaticano nomeia, com a ajuda dos seus
núncios apostólicos, o embaixador do Papa. Então, cada tempo tem o seu modo de
escolher. Imagina hoje, em que tudo é feito à base da disputa política e para
escolher uma diretora de uma escola tem disputa, imagina a escolha de um Bispo!
Então eu acho que é a melhor forma que está sendo feita.
seu livro, Como se faz um Bispo, como
surgiu a ideia de abordar a figura do Bispo? O que te levou a pensar nessa
questão?
me ficou uma dúvida, eu tinha uma pulga atrás da orelha. Por que alguns são
escolhidos e outros não? E nem sempre os mais brilhantes é que são escolhidos
Bispos. Então, eu tenho mil histórias de como é que são feitos os Bispos, tem
muitas piadas, mas também tem muito caso de pessoas que são escolhidas, como
dizem, pelo Espirito Santo.
você ocupa a cadeira n° 4 da academia de letras em Mariana, desde o ano
passado. Como isso reflete em seu trabalho?
foi um susto, eu não esperava quando me convidaram, eu fiquei como todo
jornalista quando entra para Academia de Letras, o Carlos Castelo Branco que
merecia com todas as razões ser membro levou um susto, O Oto Lara Rezende,
daqui de São João, também ficou assustado. E muitos outros jornalistas ficam
assim, porque quem faz literatura faz jornalismo, nós sabemos que o jornalismo
não é bem literatura no sentido estrito da palavra, pois nós cobrimos o fato, a
notícia. No meu caso, eu tenho procurado escrever livro-reportagem, e é sobre
isso que eu quero falar aqui hoje em São João, dentro de um tema que, no meu
caso, é o tema da igreja.
mensagem o senhor tem para passar para os alunos de jornalismo que estão entrando na carreira?
Primeiro
eu vou cumprimentar todo mundo, porque eu fiquei sabendo que o curso de
jornalismo daqui ficou em terceiro lugar no ENADE. Segundo, eu vou dizer o
seguinte: jornalismo é sensacional, isso é vocação mesmo, tem que procurar
seguir o seu instinto e fazer jornalismo. E é uma forma de tentar melhorar o
mundo. Eu estou participando de uma associação chamada “Associação
Internacional de Jornalistas de Religião”, uma associação que nós fundamos em
Bellagio, na Itália, ano passado. Tem gente do mundo inteiro, do Paquistão,
África, Mórmon, tem todo tipo de gente, e a nossa ideia é fazer do jornalismo
uma forma de reduzir a intolerância religiosa. Quanta guerra já foi feita no
mundo por causa de religião! Então, eu acho que o jornalismo pode acabar com a
intolerância e promover a compreensão entre os povos.