As histórias do barro de Tião Paineira
Oleiro de 88 janeiros conta sua história através de seu ofício
São raros os tiradentinos que nunca viram ou ouviram falar do Seu Tião Paineira, como é conhecido o senhor Sebastião de Augusto Freitas. O nome pelo qual é conhecido veio de família. Foi uma grande árvore de paineira da casa de seu bisavô que originou o apelido – hoje quase um sobrenome. Sua residência fica um pouco afastada do centro da cidade, no caminho para Bichinho, mas a simpatia do oleiro de 88 janeiros é reconhecida por todo o município.
Seu Tião trabalha com barro, “o pé, a mão e a caixa de ideias” na olaria no quintal de sua casa. Faz seus “quebra-galhos”; panelas, moringas, tigelas, cinzeiros e apitos de barro para os hotéis e pousadas da cidade e vive uma vida tão tranquila quanto a cadência de sua voz, contando suas memórias.
A olaria e o barro sempre estiveram presentes em sua vida. “Lembro de vovô trabalhando, mas ele não era muito caprichoso não. Fazia umas panelas meio ‘lambonas’, meio esquisitas, mas vendia tudo”, conta. Seu Tião aprendeu as técnicas observando e conversando com seu pai ainda aos 12 anos de idade. “Meu pai era um oleiro caprichoso, sempre me dizia pra ‘centrar’ a asa um pouco ‘enviasada’ dos meus potes”, relembra. Ganhou seu próprio torninho assim que teve “força suficiente” para trabalhar com o pé.
O ofício segue sempre um filho de cada geração e já está há cinco em sua família. Nos 76 anos que se dedicou à profissão, Seu Tião conseguiu sustentar sua esposa e filhos fazendo o que gosta. “Não deu pra ficar nobre não, mas deu pra criar sete barrigudinhos”, brinca.
Com a expansão urbana e do turismo em Tiradentes, a vida ficou mais fácil. Se antes ele e a família tinham de viajar por dias por estradas de terra para entregar as mercadorias aos clientes, hoje os fregueses estão espalhados pelo centro da cidade. “Hoje tudo o que faz, vende”, revela. Mas a produção fica mais por prazer do que dever.
Conversar com o Seu Tião é como pegar uma Maria Fumaça e passear pela história de Tiradentes na companhia de um “caro amigo”, disposto a “contar um caso procê” a cada nova curva.
TEXTO/VAN: Rebeca Oliveira