Quilombolas de Jaguara comemoram o Dia da Consciência Negra
“O evento é importante porque dá continuidade às tradições mais antigas”, define João Rosa (67), morador da Comunidade Quilombola de Jaguara desde que nasceu. O Dia da Consciência Negra foi comemorado no domingo (23), na comunidade pertencente ao município de Nazareno. Apesar do tempo nublado e da chuva, a tarde foi marcada por festividades que animaram os presentes na localidade. O intuito da festa é a preservação da cultura afro-brasileira. O evento foi marcado por danças típicas da cultura africana, como a Dança do Pilão, a Roda de Capoeira, com o grupo Biriba de Ouro, a presença das corporações de Congado de São João del-Rei, São Benedito e São Sebastião, bem como o Congado de Nossa Senhora do Rosário, da comunidade de São Dimas, além da participação da Folia de Reis Coqueiro e Nazareno. Cleuza Cunha, presidente do Consep de Nazareno, comentou sobre a festividade:
– “Venho na festa há dois anos e o que mais gosto é a Dança do Pilão, de que participo e admiro por ser uma dança de origem africana”.
A Dança do Pilão já tem se tornado tradição no Campo das Vertentes, devido ao esforço e contribuição do músico Vicente Miranda, da Comunidade de Brasilinha. Miranda começou esse trabalho de resgate da cultura africana no ano de 1992, que, segundo o músico, constitui “uma travessia dentro da cultura em nossa região”. O artista saiu a cavalo em direção à cidade de Carrancas, levando mantimentos, barraca e ração para os animais no lombo de um jumento.
“Carrancas foi o lugar escolhido para minha pesquisa e dentro desse contexto direcionei o trabalho para o negro escravo, porque naquela região concentrava-se um grande número de fazendas marcadas por sinais da escravidão ali presente”. Vicente Miranda iniciou sua trabalho a partir da conversa com alguns afrodescendentes, que lhe informaram sobre a Dança do Pilão de Inhá. Com o passar dos anos, algumas informações não eram tão precisas, mas, mesmo assim, dentro desse estudo foi possível descobrir dados relevantes, buscando ser fiel à origem dessa tradição. “Quem mais me ajudou foi um senhor de uns 80 anos que me relatou boa parte da dança, tendo em vista o fato do avô dele ter sido um dos últimos que conseguiram manter a dança”.
Segundo o músico, nos tempos remotos da história dessa dança, “eles estavam beneficiando algum tipo de grão, como o café. Essa dança só era permitida à noite, no momento em que os negros tinham uma pausa para o descanso e buscavam uma forma de entretenimento”. Se o senhor de escravos permitisse, a festa ia até a madrugada, pois o grupo ia se revezando e assim não havia o abatimento pelo cansaço. Atualmente, a dança envolve 12 mulheres, entre elas participantes da Comunidade de Jaguara, Caquende e São João del-Rei. “A Dança do Pilão é um trabalho de palco, artístico, que tem como objetivo a transmissão para as novas gerações de uma cultura já antiga”, afirmou Miranda. O desfile de beleza Negra Mirim compôs a cerimônia de encerramento da festa.