Em novembro do ano passado, uma
manchete publicada pela Gazeta de São João del Rei ganhou
repercussão nas redes sociais. Um furo de reportagem? Um escândalo? Um fato
absurdo? Não. A atenção toda foi voltada a um erro de digitação.
Em letras destacadas, o veículo
publicou “drogras” ao falar sobre uma grande apreensão de entorpecentes na
região e movimentou a internet ganhando reações divididas: de um lado, houve
quem atacasse o deslize. De outro, houve quem compreendesse o lado quase
corriqueiro do “problema”, corrigido em Errata no veículo em edição posterior.
Ficou, porém, uma outra dúvida: se na
web leitores debatem arduamente a questão, como os próprios repórteres lidam
com ela em tempos de redes e compartilhamentos virtuais?  
Em busca das respostas, fomos atrás
da editora do semanário, Carla Gomes, que também é apresentadora do
programa Conversa Franca na TV Campos de Minas e assessora do
SindiComércio local.
Carla Gomes, editora-chefe do jornal semanal Gazeta de São João del-Rei
Foto: Reprodução facebook
Há uma
década à frente do veículo que circula em 16 municípios com 10 mil exemplares,
a jornalista contou um pouco da rotina da redação e das dificuldades em se
fechar um jornal semanal.
Vida Universitária – Como é a rotina da
Gazeta? Como é o processo entre a produção da pauta e a distribuição para o
leitor?
Carla Gomes – Por ser um jornal semanal,
a rotina da Gazeta é um pouco diferenciada. Vou começar pela
quinta, que é o dia do fechamento e quando damos os últimos retoques para
mandar a edição para a gráfica. Depois fazemos uma reunião pré-pauta, para o
próximo número. Na sexta-feira e no final de semana, o esquema é o de plantão
de um dos jornalistas. Já na segunda-feira toda a equipe se reúne e discutimos
a pauta final, definindo o que vai entrar no jornal. Aí começa todo o processo
de apuração e levantamento de matérias até a quarta-feira, nosso deadline.
Vida Universitária – A Gazeta é um
jornal semanal e é bem comum que, ao comparar com os jornais diários, as
pessoas acreditem que a tarefa de se fechar uma edição assim é mais fácil. É um
equívoco, não?
Carla Gomes – Sim. Digo isso pra
todo mundo: já trabalhei em jornal diário. Considero o semanal mais complicado.
Como a informação já foi dada no rádio e na TV, em tempo real, temos que
procurar o diferencial. Falo frequentemente para os “meninos” [a jornalista
sempre chama os colegas de trabalho dessa forma ou outros tratamentos informais
e afetivos, além de se incluir em um grupo, mencionar o coletivo – quase nunca
o ‘eu’]
que considero as nossas matérias ‘especiais’. Como nossos textos
são semanais, há essa característica e procuramos entrevistar mais pessoas,
aprofundar o assunto. Achar o jornal semanal ‘mais fácil’ é uma ilusão.
Vida Universitária – Quantas pessoas são
responsáveis pelo fechamento de cada edição?
Carla Gomes – No jornal de
interior não há aquela divisão certinha de funções, com repórter, fotógrafo,
revisor. Como eu falo sempre para os meninos: a gente faz de tudo um
pouco. Mas na prática, para o expediente, eu estou como editora; a Mariane
(Fonseca) como repórter; o Rodrigo (Antunes) como revisor de texto; e a Alicia (Fernandes)
como estagiária. A responsabilidade maior fica entre a Mariane e eu; na parte
da revisão todo mundo lê e o retoque é feito por mim.
Vida Universitária – Como esse processo
ocorre exatamente?
Carla Gomes – O jornal passa por
quatro pessoas. E mesmo assim podem sair muitos erros. Quando isso acontece,
nos sentimos como se fôssemos morrer (risos). Recentemente saiu um
na capa: a palavra “drogas” foi publicada com uma letra a mais. Mas como eu
sempre falo – e não estou amenizando: o erro de digitação é menor do que o de
informação. Não temos vergonha de assumi-lo e além disso o justificamos para o
nosso leitor.
Vida Universitária – Houve uma polêmica
no Facebook. Como vocês lidaram com isso?
Carla Gomes – A gente não entra
nesse mérito. O Rodrigo, que trabalha aqui, acabou comentando o problema,
respondendo uma das críticas. E não acho errado. Quem estava na redação sabe a
dificuldade que tivemos. Foi uma semana atípica, estávamos com um repórter a
menos e tivemos que fechar a edição um dia antes. Às vezes a gente tem esse
ímpeto de desabafar. Mas o procedimento é sempre esse: errata na próxima
edição.
Vida Universitária – Um erro desses pode
gerar uma demissão? O que seria inconcebível?

Carla Gomes – Um erro desses,
não. Mas se for algo recorrente, toda semana, precisamos avaliar. Na realidade,
o erro absurdo é o de informação. E isso nunca aconteceu na Gazeta.
Por exemplo: o repórter inventar a fala de uma pessoa ou um fato; tomar
créditos de uma foto que não é dele. 

Texto: Cláudia Maria

* #EVU – O Especial Vida Universitária é resultado de uma oficina de texto dada pela jornalista Mariane Fonseca para integrantes da Vertentes Agência de notícias e sairá às segundas-feiras até 16/02/2015.

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