Crônica – Um pequeno ser, um grande poder
Por Ana Cláudia Almeida
Mais uma tarde ensolarada, mais um dia do ano percorrendo o relógio. Em um mesmo horário de sempre, escuto: barulho, gritos, risadas, cumprimentos. Eram apenas crianças na porta da escola no auge de sua euforia. Enquanto as mais inquietas se destacavam, outras silenciosas observavam o mundo ao seu redor. Em conjunto, todas se resumiam à espera. Pai ou mãe, avô ou avó, a “tia da van” ou o irmão mais velho. Para os pequenos, a figura do maior ultrapassa o simbolismo de seu retorno para o lar e surge como um porto seguro. De tempos em tempos, tais relações primárias do cotidiano alternam dentro de um múltiplo caráter. Rede de proteção e apoio, um espelho, um conselheiro. O aprendiz em constante desenvolvimento só deseja um mapa para seguir seu caminho. Com toda vivacidade e ingenuidade típica da primeira vez, passos firmes em terrenos irregulares e quedas vão compondo sua jornada. “Vivendo e aprendendo a jogar”, já dizia uma ilustre cantora.
Permaneço em minha janela olhando aquele movimento acelerado de “pessoinhas” com todo o tempo do mundo. Paro e penso: quantas andanças ainda vão surpreender a vida delas? Há muitas possibilidades…
Vou além, reflito: “andança”, “andar”; então criança…Pois, é! Mais uma vez a língua clareando um pouco as ideias. Sei que proteção e cuidado passaram agora por sua mente, mas vou recalcular a rota. Quem diria um pequeno ser ter toda essa capacidade. Sim, de criar! Sejam breves momentos, algumas risadas bobas e pequenas alegrias, umas fantasias ou um amor inigualável dentro de nós. Pura magia das crianças.
Eu sei, para quem as recepcionam neste planeta cada vez mais complexo, sentimentos antes desconhecidos passam a transbordar. Criar uma vida nos exige enquanto nos retribui. Aliados aos prazeres da vida surgem instantes de tensão. Mas imagina apenas existir e experimentar. Sem preocupação com riscos, sem repensar e hesitar, sem qualquer pressão imposta. Tudo sendo novidade, tudo virando festa! Era incrível, eu sei, eu sei…
Acho que, com um jeito esperançoso de encarar essa viagem, os passageiros iniciantes carregam em sua mala apenas itens leves e mais valiosos. Talvez seja esse o segredo de seu alto poder de criação. Quem diria a inocência sair na frente da esperteza. Às vezes, muito raciocínio gera pouca ação. Quanto mais se conhece, menos se busca conhecer. Não apenas manter viva a criança interior, adultos clamam em libertá-la.
Dentre as opções, sábio é “viver e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”. Fico por aqui “com a pureza da resposta das crianças” e alerto: Essa “é a vida, é bonita e é bonita”.