O que é capacitismo?
Por Rafael Alonso
De acordo com o Disque 100, canal de denúncias sob gestão da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, em 2023 foram registradas 394.482 violações contra as pessoas com deficiência no Brasil. Em comparação ao ano anterior, 2022, esse aumento foi de 50%. Esse dado preocupante revela que as pessoas com deficiência no Brasil enfrentam uma série de desafios no país, principalmente no acesso à educação e ao mercado de trabalho. Um desses entraves é o capacitismo. Ele baseia-se na ideia de que a habilidade física ou mental é um indicador de superioridade, e que as pessoas com deficiência são menos capazes ou menos dignas de respeito e oportunidades.
Nesta entrevista, o advogado de São João del-Rei, André Vianna, especialista em direito arbitral, aborda as consequências deste problema, como ficar atento aos sinais e como combatê-lo.
- Mas afinal, o que é esse capacitismo?
Capacitismo é uma forma de discriminação contra a pessoa com deficiência. Tem a ver com
a capacidade da pessoa, e como essa capacidade é posta em dúvida. Significa qualquer
forma de duvidar ou diminuir a capacidade da pessoa com deficiência para realizar
determinada tarefa ou ação.
- O que é ser uma pessoa capacitista?
Num exemplo prático, seria o ato de diminuir uma pessoa (normalmente com alguma
deficiência) por causa de uma impossibilidade física, intelectual ou sensorial, mas em geral
a pessoa capacitista é ignorante, ou seja, não sabe que sua ação é discriminatória, ou se
acha superior à pessoa com deficiência.
- O que é um ato capacitista?
Ato capacitista é qualquer ato que coloque a pessoa com deficiência em situação de
inferioridade, pode ser tratar uma pessoa com deficiência de forma infantilizada, falar dela e
sobre ela como se ela não estivesse presente, assumir que a pessoa com deficiência não
consegue fazer nada e tratar todas as suas conquistas como milagre. Até mesmo algumas
atitudes “bem vistas” podem ser atribuídas ao capacitismo, como por exemplo ajudar a
pessoa com deficiência sem que esta tenha sido pedida, ou mesmo sem avisar a pessoa
com deficiência. Quantas vezes não vemos pessoas conduzirem uma pessoa com
deficiência visual sem aviso prévio, muitas vezes os assustando? Algumas expressões
como ‘retardado’ também são consideradas capacitistas.
- Qual é o crime do capacitismo?
Os crimes podem surgir de uma ação ou de uma omissão, no crime de homicídio, por
exemplo, o crime é a ação de matar, já na omissão de socorro, o crime é não atuar
prestando socorro. Sendo um tipo de discriminação, o crime é praticá-la, ou fazer outra
pessoa discriminar uma pessoa com deficiência.
- Quais são os tipos de capacitismo?
Particularmente, eu não gosto de categorizar a discriminação, mas existem três tipos de
capacitismo, o médico, que trata as pessoas deficientes como doentes e incapazes; o
recreativo, que normalmente está associado a brincadeiras de mau gosto com pessoas com
deficiência ou sobre pessoas com deficiência, e o institucional, que trata das instituições
particulares ou públicas, em questões de falta de acessibilidade ou tratamento desigual para
pessoas com deficiência.
- Em qual lei se insere o crime de Capacitismo?
A discriminação é tratada na Constituição Federal e em algumas leis esparsas, mas com a
promulgação da Lei 13.146/15, a Lei Brasileira de Inclusão ele ficou consolidado no seu
artigo 88, também é repudiado pela Lei Berenice Piana, que trata exclusivamente do
autismo.
- Quais são as expressões capacitistas mais frequentes?
São aquelas usadas para diminuir o deficiente ou atribuir qualidades negativas às pessoas
sem deficiência, como ‘retardado’, ‘mongol’, ou dizer que ‘uma pessoa está muito autista’,
por exemplo.
- Como combater o capacitismo na sociedade?
Em primeiro lugar deve ser feita a conscientização da sociedade, como eu falei lá em cima.
muitas pessoas são capacitistas por ignorância, precisam ser educadas. A criminalização
do capacitismo é a medida adequada para aquelas que simplesmente são preconceituosas,
ou seja, aquelas pessoas que, conhecendo sobre o capacitismo continuam a praticá-lo por
diversão ou por se acharem superiores, finalmente, a mudança da sociedade virá da própria
luta das pessoas com deficiência, ocupando os espaços de poder, postos de trabalho e
denunciando o capacitismo.