Cadê a foto? O contraste do digital e do impresso nos dias atuais
por Júlia Diniz
A necessidade do registro e a destinação deles para além das redes sociais
Rever álbuns de fotografia é um ritual memorável da cultura brasileira, em que familiares ou amigos se reúnem para folhear impressões, no intuito de reviver registros ali materializados. Entretanto, com o desembolar da tecnologia, e a possibilidade de armazenamento digital de imagens, torna-se cada vez mais comum deixar de lado esse costume de arquivar registros em meios físicos. Para onde vai essa nostalgia daqui a algumas décadas? Como será possível acessar vivências com essa intensificação dos meios digitais, em detrimento do manual? Aos que armazenam fotos, quais os destinos agora dados a elas? Ainda há o desejo de transpô-las ao meio tátil?
Segundo o fotógrafo Giancarlo Ceccon, há uma diferenciação entre o ato e o raciocínio de fotografar na sociedade contemporânea. Já não se dá aquela importância geral seletiva de imagens, uma vez que não há mais a necessidade de calcular, por exemplo, a quantidade de filtros que serão queimados com fotos sequenciais retratando uma mesma questão. Além disso, ele diz que a descentralização da figura dos fotógrafos com o decorrer da maior acessibilidade de aparelhos, proporcionam uma maior autonomia de registros. Isto é, a individualidade e capacidade de armazenamento digital próprio faz com que os indivíduos já não sejam tão criteriosos na seleção de imagens e, consequentemente, na impressão destas. ‘’Hoje em dia você tira um milhão de fotos da sua comida, do seu cachorro, 20, 30 iguais e depois já estoura a memória do seu celular, ou seja, a relação é muito mais rápida e imediata, muito menos racional, muito mais impulsiva’’, ressalta o também diretor artístico.
Entretanto, observa-se um resgate dessa prática acompanhada pelas tendências vintage. Uma releitura de tal fato são as polaroids, que como cita Jonathan, turista de 19 anos na cidade de São João del-Rei, é algo que fez ressurgir esse costume entre os jovens. Já Marcos, de 20 anos que acompanha Jonathan no passeio, acredita que esse hábito tem se perdido com o tempo, mas não descarta a essencialidade de continuar com a prática de ter em mãos fotografias impressas, ‘’É igual na casa da minha avó, cheio de álbum de fotografia, é importante preservar essas memórias’’.
E esse fato se comprova, segundo dona Ana, de 72 anos, que diz gostar muito de folhear álbuns, ‘’Gosto muito de ver meus netinhos assim, em fotos, já que o tempo passa muito rápido. É bom deixar guardado’’. Ela diz ainda que com certa frequência, seleciona as fotos preferidas para poder até presentear familiares, ‘’É sempre bom uma lembrancinha’’.
Uma grande questão volta-se para o custeio de ter essas memórias impressas, e esse ponto é ressaltado pelos entrevistados. Pela praticidade de arquivar memórias sem nenhum custeio para além da posse dos aparelhos digitais, revelar imagens demanda ser mais barato para que essa tradição continue sendo propagada, ‘’Essa dica da Shopee foi boa, porque sai por menos de um real (cada foto) e torna mais viável de imprimir’’ ressalta Débora, de 37 anos, que percorre o país de moto e sente a necessidade de deixar algo físico registrado.
Dessa maneira, é possível notar que, mesmo com a popularização de recursos digitais em registros fotográficos, ainda há uma sensibilidade marcante na impressão física, que não parece ser tão facilmente deixada de lado na contemporaneidade. Ressaltado pelo resgate de tendência de décadas anteriores, o estilo de fotografia e efeitos deixados por câmeras analógicas (famosas retrôs), ainda tem despertado mais esse instinto de permanência física de registros. Isso decorre de diversos fatores, como pôde-se perceber a correlação nostálgica em folhear um álbum antigo de família, atrelado à vontade de eternizar momentos para além do digital. Além disso, aliados modernos viabilizam essa prática, como sites que diminuem o custeio de impressão e aparelhos como as famosas ‘’Instax’’, câmeras que realizam impressões instantâneas de polaroids.