A chuva que nós causamos
Por Maria Eduarda Cardoso
Era um feriado tranquilo em São João del-Rei, até por volta das 17h. Com a queda de energia elétrica, era arriscado usar o elevador. Talvez descer as escadas de emergência com as luzes piscando possa parecer com uma cena de filme. Corri pra desligar os eletrodomésticos das tomadas e pegar as roupas quase secas no varal.
O barulho do vento se comparava a caminhões em movimento. Nas ruas, o vento carregava areia, lixo, galhos de árvores, folhas e telhados. O céu desabou. Em prédios altos, dava pra ver trombas d’água (várias ao mesmo tempo). Tudo estava nublado, não era possíve.l Nem o Cristo e as antenas eram visíveis. O sol estava “fosco”, por assim dizer, quase apagado, lembrava uma lua amarela. A nuvem que cobria o sol, além da neblina, ia se esvaindo aos poucos.
De repente, ouço leves batidas frequentes na janela, achei que o vidro fino não suportaria chuva de granizo. Granizo. E a chuva aumentou. Entrou água em minha casa, assim como na casa de outras pessoas. Aparelhos eletrônicos e domésticos foram queimados, houve um acidente de trânsito, telhados e asfalto arrancados, calçamento danificado, geladeira sendo arrastada pela água, lojas inundadas por água; folhas e barro, carros nadando na água, ruas viraram rios (eu ainda estou no lucro). Os vídeos da população, postados por um perfil interativo sobre a cidade, são assustadores. Coisa que só é vista na televisão.
No dia seguinte, saí de casa cedo, por volta das 7h e as pessoas estavam apavoradas. Todos comentando nas ruas com tom de surpresa. Árvores atingidas de forma que muitos galhos foram quebrados e consequentemente mataram vários pássaros. Eu caminhava tentando não olhar pro chão e ao mesmo tempo tentava não pisar neles. Será que é correto afirmar que tamanha calamidade é a força da natureza? Foi manipulada, mesmo que de forma não intencional? A que ponto a falta de estrutura em todas as situações climáticas podem afetar a população e a fauna?