Música para PcDs: para além da inclusão
Por Igor M. Chaves, Lívia Antoniazzi e Rafael Alonso
Desde 2008, o Conservatório de São João del-Rei oferece aulas de musicalização para pessoas com deficiência. Ministradas toda segunda e terça-feira, das 13h50 às 16h30, a iniciativa visa incluir PcDs, possibilitando que, por meio da música, eles se encontrem na sociedade. A iniciativa, sediada no Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier, vem transformando a sociedade são-joanense, construindo um mundo acessível para todos.
Conceição, uma das idealizadoras da ação, explica que as aulas de música, além de trabalharem a coordenação motora, exploram os sentidos dos alunos, seja de maneira física, mental ou sensorial. “Isso tudo é muito importante para a evolução deles. Temos um aluno que não pegava o violão de jeito nenhum. Tinha medo. Hoje, o violão é a primeira coisa que ele quer quando chega aqui”, comenta. Isadora, aluna do projeto, concorda. Para ela, a iniciativa permite que pessoas com deficiência sejam vistas: “Acho muito importante, porque acaba incluindo a gente, e as aulas são legais! Eu acho elas muito interessantes”, disse a violonista.
A sigla PcD significa “pessoa com deficiência” e foi implementada pela ONU em 2006, na Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência das Nações Unidas. No Brasil, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, estabelecido na Lei Brasileira de Inclusão, garante que PcDs tenham direitos igualitários, recebendo apoio à uma vida independente e acesso à uma educação inclusiva. Vicência, professora de violão da ação promovida pelo Conservatório de São João del-Rei garante: “Nossa preocupação aqui é eles serem felizes. Levamos a música para dentro deles, como uma forma de sensibilização e de socialização”.
Contudo, a ação vem passando por dificuldades. Conceição conta que as aulas não estão incluídas na grade do Conservatório e, portanto, não recebem apoio governamental. Quando foi fundado, em 2003, o projeto era voltado para artes plásticas e financiado pela federação, porém, após cortes orçamentários, mudou para o Conservatório e foi readaptado. Desde então, nenhum novo investimento foi proposto. “Quando o governo não nos ajuda ou quando não é interessante para ele termos as aulas de música para os PcDs, as aulas não acontecem”.
Mesmo assim, as professoras e seus alunos continuam resilientes. “Quando eu cheguei aqui, queria fazer todo mundo tocar o real. Queria mostrar os acordes e fazer a música exatamente igual ao que a gente aprende a fazer. Daqui saem coisas impressionantes: o Deyvison criou um livro; o Lucas criou uma música para Nossa Senhora. Tudo por conta do estímulo e melhora na autoestima”, relembra Vicência. Para Isadora, as aulas são fundamentais: “Aprendi a fazer amizades, ajudar, conviver, respeitar um ao outro”. E Conceição complementa: “Aprendi muito a respeitar, a amar e a defender as outras pessoas. Eles estão sempre rindo, sempre brincando, e assim, acabam ensinando muita coisa para a gente”.