Dezembro verde: Cuidar dos animais também é cuidar da saúde pública
Texto: Arthur Cesar do Vale Dias; Gabriel Rondon Alves Pereira; Gustavo Ferreira; Lays Corsini Fortes Sampaio e Helton Ribeiro de Oliveira.
Revisão: Samantha Souza
O Dezembro verde nasceu através do projeto de lei 5481/20, cujo autor do projeto é o deputado Fred Costa (Patriota-MG), onde ações visam a conscientização da população sobre o abandono de animais e a configuração do ato por motivação banal, já que é hediondo causar esse sofrimento na vida desses animais, que podem reduzir sua expectativa de vida para 2 anos.
O projeto tem destaque no mês de dezembro, porque é justamente o mês com o maior índice de abandono, uma vez que o período de férias se aproxima e atitudes injustificáveis contra os animais acontecem! Entre as atividades de reflexão sobre a importância da proteção aos animais, estão a iluminação de prédios públicos com luzes na cor verde, palestras, eventos, cartilha nas escolas e o uso das mídias para informativos relacionados ao tema!
A movimentação do projeto, além de proteger os animais do sofrimento que lhe são impostos, beneficia toda população com questões da zoonoses e na prevenção de acidentes de trânsito.
Impacto da pandemia no abandono dos animais
Com a chegada da pandemia e a necessidade de distanciamento social, as pessoas passaram mais tempo em casa e, com isso, com todo esse tempo extra sobrando, o número de adoções de animais domésticos cresceu bastante.
Porém, com o agravamento da situação nacional no decorrer do estado pandêmico, o cenário começou a mudar. Com uma situação econômica mais delicada, número de casos subindo e o mercado de trabalho cada vez mais instável, muitos desses animais adotados foram devolvidos ou abandonados mais uma vez.
A Organização Mundial da Saúde estima que existam mais de 10 milhões de gatos e 20 milhões de cachorros abandonados no país. É importante ressaltar que, além do estado de abandono, outros problemas vem junto com esses animais, como a transmissão de zoonoses, por exemplo.
Segundo o médico veterinário Vitor Vieira De Resende Souza, as doenças que mais acometem os animais de rua são as virais e as causadas por protozoários, como cinomose, raiva, leishmaniose e giardíase. A problemática é que, além de acometer os animais, essas patologias podem ser transmitidas para humanos, o que pode se tornar um problema de saúde pública caso não seja controlado.
Outro ponto relevante é que o tratamento dos bichos pode não acontecer, já que algumas doenças não se manifestam visualmente, além de não apresentarem sinais clínicos. Assim, eles acabam fazendo o papel de reservatórios de patógenos. Quando manifestadas, os animais apresentam aparência cansada, corpos muito magros, pele enrugada e olhos fundos.
Identificando a doença, o tratamento para animais de pequeno porte não é subsidiado pela prefeitura, carecendo de doações de ONGs ou pessoas ativas em ações que arrecadam fundos para arcar com essas despesas.
Uma pesquisa feita em 2015 pelo IBGE nos mostra que 60% dos donos de animais domésticos disseram que deixariam seus pets caso fossem mudar de casa, ou seja, levariam para a adoção ou até pior.
Analisando esse número, é perceptível que as pessoas não têm noção e nem responsabilidade sobre a vida desses animais, não entendem que cães e gatos, uma vez sob responsabilidade de algum dono, tendem a ser mais dependentes, sofrendo imensas dificuldades na rua sem alguém para cuidar deles. Em 2021, ONGs relatam que os recordes de abandonos foram batidos.
Para evitar a situação do abandono e maus-tratos, a castração é a opção mais viável e responsável, pois previne doenças sexualmente transmissíveis e infecciosas dos órgãos reprodutores, como a piometra em cadelas, e auxilia no controle de natalidade de ninhadas indesejadas. Vitor garante que a castração não traz nenhum malefício para o animal quando realizada de forma correta, em um ambiente adequado, com instrumentos esterilizados.
Solidariedade pelas ruas sanjoanenses
Fundada no final do século XX pelas Irmãs Franciscanas, a Sociedade São Joanense de Proteção Animal tem sido uma referência no Campo das Vertentes quando se trata do cuidado com os animais em situação de rua. A ONG, que não recebe nenhum tipo de aporte financeiro do setor público de São João del-Rei, sobrevive através de doações e vaquinhas realizadas principalmente pelo seu perfil no Facebook que conta com mais de 13 mil curtidas.
Mara Souto, hoje vereadora de São João del-Rei pelo Partido Social Cristão (PSC/MG), já foi presidente da Sociedade Protetora durante mais de 20 anos e nos conta que as maiores dificuldades encontradas estão relacionadas a verbas para realizarem ações relacionadas à proteção dos animais:
– “No último levantamento feito em 2019, o número de animais em situação de rua era de mais de 5 mil bichinhos. Durante meus mais de 20 anos à frente da Sociedade Protetora dos Animais em São João del-Rei adotei uma política de controle de população, no entanto, agora está sendo um pouco difícil conseguir castração por causa da pandemia. Quando conseguimos veterinários para fazer o procedimento não conseguimos pagar.”
No entanto, não é a limitação financeira que impede a atuação da Sociedade Protetora, muito pelo contrário, a associação que quase fechou as portas em 2015 por dificuldades financeiras, permanece hoje em 2021 aberta oferecendo serviços de cuidados aos animais em situação de rua.
Isso só é possível através da solidariedade de pessoas como a do Roberto, morador do bairro Caieiras que ajuda os animais que moram na rua colocando ração e água na porta da sua casa, e sempre que pode também doa para a Sociedade Protetora.
Adoção: um ato de amor e cuidado
A adoção é uma forma de solidariedade com os animais abandonados e pode ser benéfica tanto para o bicho quanto para a pessoa que está realizando o ato. Os animais sentem emoções, como dor e alegria, por isso sofrem muito com a situação de rua.
Ao adotar, o indivíduo ajuda a reduzir o número de animais na rua e controlar sua reprodução. A costureira Maria Eduarda Mello, de 18 anos, resgatou dois cachorros das ruas e afirmou que “a maior importância é tirá-los dos perigos constantes, que estão sofrendo soltos nas ruas e dar uma vida segura a eles”, relata a jovem.
Segundo a estudante, a adoção trouxe mudanças muito positivas para sua vida:
-“A adoção mudou minha vida completamente para melhor, mudou meus objetivos, formas de pensar, me deu mais responsabilidade e um amor que eu nunca imaginei que sentiria por animais. O amor desses bichinhos tem poder curativo, pois ter a companhia deles, o carinho, o amor sincero e conseguir enxergar a gratidão que ele tem no olhar é impagável”, acrescenta.
Para quem quer adotar um animal mas não sabe como fazer, onde procurar, Eduarda dá uma sugestão: – “os abrigos de animais estão sempre lotados, então indico buscar nesses locais. As ruas também estão repletas de cachorros vagando e esperando por um lar. Lembre-se de levar o animal resgatado o mais rápido possível em um veterinário, para colocar as vacinas em dia e oferecer todo o conforto que ele merece”, pontua a costureira.
Na opinião de Maria Eduarda, as leis de proteção animal preservam os bichos em partes, já que deveriam ser mais rigorosas e criteriosas. infelizmente muitos animais ainda sofrem com maus tratos, em todos os lugares: – “Algumas políticas poderiam trazer mais benefícios para os animais, como ações que conscientizem a população sobre os problemas do abandono de animais, abordando os transtornos para os bichinhos. Além disso, ações para arrecadação de fundos que paguem o tratamento de cachorros doentes e machucados, além de compra de ração, vacinas e itens de cuidados básicos”. Finaliza.